Jair Bolsonaro avançou um passo importante rumo a um
isolamento que lhe poderá custar caro na hora em que precisar de aliados além
da militância virtual de redes sociais. Não conseguiu convencer ninguém de que
não tem participação na cascata de ataques contra alguns generais em seu
governo, que culminou em baixaria inominável contra o ex-comandante do Exército
general Villas Bôas, personalidade admirada nos mais variados setores. “Herói
nacional”, disse Sérgio Moro.
A ação contra os militares é apenas a mais recente
ilustração do fato de que os “ideólogos” que conduzem o presidente enxergam a
defesa de instituições – papel que os militares vêm desempenhando – como um
obstáculo a ser eliminado no que eles consideram “revolução conservadora”. A
distância que essa percepção tem do que realmente acontece nas ruas é enorme e,
provavelmente, será fatal para os grupos bolsonaristas da extrema franja do
espectro político. Eles vão perder, mas o problema está no dano que já estão
causando.
O perigoso isolamento político do presidente se dá quando
ele faz de conta ignorar uma luta política que afeta também a credibilidade do
chefe de Estado, na medida em que alguns de seus colaboradores mais próximos
são desqualificados com palavrões por alguém que o próprio chefe de Estado
elogia APÓS a sequência de ataques. O que transparece dessa atitude é a
sensação de falta de liderança. E de perda de autoridade.
Boa parte das reações do mundo político caminhou nessa
trilha: a de que o presidente não lidera ou, no mínimo, não é capaz de
controlar ou sequer de perceber um jogo que lhe é prejudicial. Parte das
dificuldades que ele enfrenta no Congresso tem como origem o mesmo tipo de
percepção: a de que Bolsonaro se engaja de maneira insuficiente em questões
essenciais (como a crise fiscal) e se dedica a administrar de maneira confusa
crises que ele ou gente à volta dele criou.
Há uma certa incredulidade no ar. Os primeiros números de
atividade econômica sob Bolsonaro, e não apenas os que ele herdou, não empolgam
ninguém. Podem ainda ser tratados pelo governo como fase passageira que será
logo suplantada por crescimento e desenvolvimento, assim que for aprovada a
reforma da Previdência (é a aposta de Paulo Guedes). Da mesma maneira,
considera-se que mais liberdade econômica almejada pela recente MP
desburocratizante e os programas de concessões e desestatização trarão logo
investimento, emprego e renda – um necessário e esperado alívio, sem dúvida.
Mas é pouquíssimo para uma economia que, ao fim do ano,
estará ainda abaixo do patamar de 2014. Nas regiões brasileiras de maior
densidade do eleitorado, a recuperação dos setores de indústria e serviço é
muito lenta e, na comparação com 2014, o PIB de seus Estados estará ainda mais
baixo do que o PIB nacional. As lições para Bolsonaro não estão na Venezuela,
mas, sim, na Argentina, país no qual (simplificando) a política travou a
economia, bloqueou reformas necessárias e colocou a “walking dead” Cristina
Kirchner de novo no palco.
Economistas tendem a afirmar que essa realidade dos fatos,
especialmente os cofres públicos quebrados, se imporá sobre as decisões dos
políticos. Trata-se de esperança ou de crença. O apego de Bolsonaro ao conjunto
de postulados levados adiante pelos “ideólogos” impõe enorme desafio
intelectual aos economistas, para os quais não cabe dúvida de que o foco
deveria ser quase que exclusivamente a estagnação de décadas da economia, da
produtividade e da competitividade do País. Em seus modelos numéricos, os
economistas ainda não conseguiram incluir um espaço para a estupidez de
decisões humanas.
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