‘MORO VIOLA SEMPRE O SISTEMA ACUSATÓRIO’
Chats da Lava Jato revelam que procuradores reclamavam de
violações éticas de Moro e temiam que operação perdesse toda credibilidade com
sua ida ao governo Bolsonaro
Procuradores do Ministério Público Federal, em mensagens
privadas trocadas em grupos com integrantes da Lava Jato, criticaram Sergio
Moro duramente pelo que consideraram uma agenda pessoal e política do juiz.
Eles foram além no decorrer e logo depois da campanha eleitoral de 2018: para
os procuradores, Moro infringia sistematicamente os limites da magistratura
para alcançar o que queria.
“Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por
seus resultados”, disse a procuradora Monique Cheker em 1º de novembro,
uma hora antes de o ex-juiz anunciar ter aceito o convite de Jair Bolsonaro
para se tornar ministro da Justiça. Integrantes da força-tarefa da Lava Jato
lamentavam que, ao aceitar o cargo (algo que ele
havia prometido jamais fazer), Moro colocou em eterna dúvida a legitimidade
e o legado da operação. Os óbvios questionamentos éticos envolvidos na ida do
juiz ao ministério poderiam, afinal, dar maior credibilidade às alegações de
que a Lava Jato teria motivações políticas.
Uma vez que o alinhamento de Moro com o bolsonarismo se
tornou claro, até os maiores apoiadores do ex-juiz dentro da Lava Jato
passaram a expressar um descontentamento antigo com as transgressões dele.
Mesmo o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol (que sempre defendeu
Moro), e o decano do grupo, Carlos Fernando dos Santos Lima, íntimo do então
juiz, confessaram preferir que ele não aderisse ao governo Bolsonaro.
Um dia antes do anúncio de Moro, em 31 de outubro, quando
circulavam fortes boatos de que Moro participaria do governo Bolsonaro, a
procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em Curitiba, escreveu no
grupo Filhos do Januario 3: “Acho péssimo. Só dá ênfase às
alegações de parcialidade e partidarismo.”
A procuradora Laura Tessler, também da força-tarefa,
concordou com a avaliação: “Tb acho péssimo. MJ nem pensar… além de
ele não ter poder para fazer mudanças positivas, vai queimar a LJ. Já tem
gente falando que isso mostraria a parcialidade dele ao julgar o PT. E o
discurso vai pegar. Péssimo. E Bozo é muito mal visto… se juntar a ele vai
queimar o Moro.” Viecili completou: “E queimando o moro queima a LJ”. Outro
procurador da operação, Antônio Carlos Welter, enfatizou que a postura de Moro
era “incompatível com a de Juiz”:
31 de outubro de 2018 – Filhos do Januario 3
Isabel Groba – 09:24:41 – É o fim ir se
encontrar com Bolsonaro e semana que vem ir interrogar o Lula.
Jerusa Viecili – 09:25:20 – Concordo com tudo,
Isabel!
Laura Tessler – 09:25:27 – Tb!
Laura Tessler – 09:26:01 – Pelo amor de Deus!!!!
Alguém fala pro Moro não ir encontrar Bolsonaro!!!
Antônio Carlos Welter – 09:44:35 – Deltan Min do STF
é um cargo no judiciário, que seria o reconhecimento máximo na carreira. Como
ministro da justiça vai ter que explicar todos os arroubos do presidente, vai
ter que engolir muito sapo e ainda vai ser profundamente criticado por isso.
Veja que um dos fundamentos do pedido feito ao comitê da Onu para anular o
processo do Lula é justamente o de falta de parcialidade do juiz. E logo após
as eleições ele é convidado para ser Ministro. Se aceitar vai confirmar para
muitos a teoria da conspiração. Vai ser um prato cheio. As vezes, o convite,
ainda que possa representar reconhecimento (merecido), vai significar para
muita gente boa e imparcial, que nos apoia, sem falar da imprensa e o PT, uma
virada de mesa, de postura, incompatível com a de Juiz.
No dia seguinte, 1º de novembro, quando ficou claro
que Moro
seria anunciadocomo ministro da Justiça, outros procuradores do MPF não
envolvidos com a Lava Jato aderiram ao coro. Conversando no grupo BD,
do qual faziam parte procuradores de vários estados, eles dispararam duras
críticas ao ex-juiz:
1º de novembro de 2018 – BD
Ângelo – 10:00:07 – Cara, eu não confio no
Moro, não. Em breve vamos nos receber cota de delegado mandando acrescentar
fatos à denúncia. E, se não cumprirmos, o próprio juiz resolve. Rs.
Monique – 10:00:30 – Olha, penso igual.
Monique – 10:01:36 – Moro é inquisitivo, só manda
para o MP quando quer corroborar suas ideias, decide sem pedido do MP
(variasssss vezes) e respeitosamente o MPF do PR sempre tolerou isso pelos
ótimos resultados alcançados pela lava jato
Ângelo – 10:02:13 – Ele nos vê como “mal
constitucionalmente necessário”, um desperdício de dinheiro.
Monique – 10:02:30 – Se depender dele, seremos
ignorados.
Ângelo – 10:03:02 – Afinal, se já tem juiz, por que
outro sujeito processual com as mesmas garantias e a mesma independência?
Duplicação inútil. E ainda podendo encher o saco.
Monique – 10:03:43 – E essa fama do Moro é antiga.
Desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele já atuava assim. Alguns colegas do
MPF do PR diziam que gostavam da pro atividade dele, que inclusive aprendiam
com isso.
Ângelo – 10:04:30 – Fez umas tabelinhas lá,
absolvendo aqui para a gente recorrer ali, mas na investigação criminal – a
única coisa que interessa -, opa, a dupla polícia/ juiz eh senhora.
Monique – 10:04:31 – Moro viola sempre o sistema
acusatório e é tolerado por seus resultados.
É particularmente significativo que procuradores tenham
chamado algumas absolvições de Moro de “tabelinhas” – destinadas a criar
uma falsa
percepção de imparcialidade –, já que as absolvições haviam sido
citadas pelo ex-juiz e por Deltan Dallagnol justamente para refutar acusações
de que Moro era o verdadeiro chefe dos procuradores.
Quando Moro foi finalmente confirmado como ministro da
Justiça, o procurador Sérgio Luiz Pinel Dias, que atua na Lava Jato no Rio de
Janeiro, digitou no grupo MPF GILMAR MENDES que, daquele
momento em diante, seria muito difícil “afastar a imagem de que a LJ integrou o
governo de Bolsonaro”:
1º de novembro de 2018 – Grupo MPF GILMAR MENDES
Thaméa Danelon – 10:19:01 – Bom dia pessoal.
Qual a opinião de vcs sobre Moro no MJ?
José Augusto Simões Vagos – 10:44:57 – Acho
inoportuno
Sérgio Luiz Pinel Dias – 10:50:51 – Thamea e
colegas, pessoalmente acho ruim para o legado da LJ, por melhor que sejam as
intenções dele de tentar influir por dentro. . . . Para mim, LJ, além de ser um
símbolo, é um método de atuação das nossas instituições, que nos permitiu, até
aqui, surfar juntos em uma excelente onda. Mas será difícil, muito difícil,
hoje e provavelmente no futuro, com a assunção de Moro ao MJ, afastar a imagem
de que a LJ integrou o governo de Bolsonaro. Vejo, por esse motivo, com muita
preocupação esse passo do Moro.
Mônica Campos de Ré – 10:54:12 – Concordo!
A procuradora Isabel Cristina Groba Vieira, da Lava Jato em
Curitiba, opinou no grupo Filhos do Januario 3: “É realmente
péssimo. O nome da LJ não pode ser conspurcado.”
‘ERRO CRASSO’
AS CRÍTICAS A MORO vinham se acumulando desde
muito antes do anúncio oficial de que ele seria empregado de um presidente de
trajetória marcada por apologia à tortura, à ditadura e a declarações misóginas
e homofóbicas. A três dias do segundo turno das eleições, em 25 de outubro, os
procuradores Jerusa Viecili e Paulo Roberto Galvão lamentaram que Moro e que a
própria força-tarefa passassem a impressão de favorecer a candidatura de
Bolsonaro.
Galvão se mostrava especialmente preocupado com o silêncio
da força-tarefa em relação às declarações do político contra a liberdade de imprensa
e ao seu desprezo pelo devido processo legal. Essas posições eram criticadas
pela Lava Jato quando verbalizadas por outros políticos. Galvão se incomodava
também com o silêncio dos colegas frente aos ataques dirigidos contra os
protestos anti-Bolsonaro que ocorriam em universidades, assim como Jerusa
Viecili:
25 de outubro de 2018 – grupo Filhos do Januário 3
Jerusa Viecili – 14:45:52 – Pessoal, desculpem
voltar ao assunto (sou voto vencido), mas, somente esta semana, várias pessoas,
inclusive alguns colegas e servidores, me questionaram a ausência de
manifestação da FT diante de alguns posicionamentos dos candidatos à
presidência. Fato é que sempre nos posicionamos diante de várias ameaças ao
nosso trabalho e, nos últimos dias, temos ficado silentes, mesmo com ameaças de
candidatos à independência do Ministério Público (nomeação de PGR fora da lista
tríplice) e à liberdade de imprensa. Em outros tempos, por motivos outros, mas
igualmente relevantes e perigosos, divulgamos nota, convocamos coletiva e
ameaçamos renunciar (!). Agora, jornalistas escrevem no Twitter que a LAVA JATO
é caso de desaparecido político, pois já alcançou o que queria. Acho muito
grave ficarmos em silêncio quando um dos candidatos manifesta-se contra a
nomeação do PGR da lista tríplice, diante de questões ideológicas. Mais grave
ainda, assistirmos passivamente, ameaças à liberdade de imprensa quando nós
somos os primeiros a afirmar a importância da imprensa para o sucesso da Lava
Jato. Igualmente grave, candidatos divulgarem nomes de futuros ministros que
são alvos de investigações e processos por corrupção. Nossa omissão também tem
peso e influência. Eu sinceramente não quero (e isso a penas a história dirá)
que a Lava Jato seja vista, no futuro, como perseguição ao PT e, muito menos,
como co-responsável pelos acontecimentos eleitorais de 2018. . . .
Três horas depois, o procurador Paulo Roberto Galvão disse
no mesmo grupo: “Pessoal, nós somos procuradores da República. Cumprimos a
nossa função no combate à corrupção, e não poderíamos ter feito diferente,
ainda que soubéssemos que daí poderia advir um eleito antidemocrático (e
sabíamos pois estudamos e conhecíamos o risco Berlusconi)”. Para ele, a
força-tarefa não poderia ser acusada de ter tentando influenciar as eleições
presidenciais, porque só fez o seu trabalho. “Infelizmente, Moro indiretamente
e Carlos Fernando diretamente erraram ao deixar transparecer preferência (o
primeiro) ou dizer abertamente de sua preferência (o segundo)”, ponderou.
Um dia depois, Jerusa Viecili insistiu no assunto: “Já
desvirtuam o que falamos contra a corrupção ser a favor do Bolsonaro.
mas não vou mais insistir. o
fato é que a FT sempre comentou tudo (desde busca e apreensão em favela, lei de
abuso de autoridade, anistia, indulto, panelinha, etc …) e agora não comenta
independencia do MP, liberdade de imprensa e BA em universidade”.

MORO ASSUME, AS RECLAMAÇÕES AUMENTAM
NA NOITE DO SEGUNDO TURNO, antes de ser anunciado o
resultado, procuradores da Lava Jato e outros membros do MPF se mostraram
irritados no grupo BD com a esposa de Moro. Mesmo depois de o
ex-juiz já
ter“cumpriment[ado] o eleito”, Rosângela comemorou
explicitamente a vitória de Bolsonaro em suas redes sociais:
28 de outubro de 2018 – grupo BD
Alan Mansur PRPA – 20:21:05 – Esposa de Moro
comemorando a vitória de Bolso nas redes
José Robalinho Cavalcanti – 20:21:29 – Erro
crasso.
José Robalinho Cavalcanti – 20:22:09 – Compromete
moro. E muito
Janice Agostinho Barreto Ascari – 20:25:30 – Moro
já cumprimentou o eleito. Como perde a chance de ficar de boa, pqp
Luiz Fernando Lessa – 20:25:56 – esse povo do
interior
Luiz Fernando Lessa – 20:26:02 – é muito simplório
Confirmada a vitória de Bolsonaro, o procurador Luiz
Fernando Lessa ironizou a ânsia de Moro em fazer parte do governo. Ainda no
grupo BD, ele se dirigiu ao então presidente da Associação Nacional de
Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti: “Robalinho, já tem lugar
na posse, do lado do Mourão? Com as tuas medalhas?”
As críticas à parcialidade e ao partidarismo do juiz
foram se intensificando à medida que a especulação acerca de um cargo para Moro
no governo Bolsonaro aumentava. Comentando uma postagem do
site O Antagonista, que tratava de uma suposta intenção de Bolsonaro de
nomear Moro ao STF e integrar a força-tarefa ao governo sob um “conselhão” a
ser presidido por Deltan Dallagnol, o procurador Paulo Galvão reclamou no
grupo Filhos do Januario 3: “impressionante como toda vez que moro fala
fora dos autos fala bobagem.” Quando Laura Tessler respondeu com uma defesa
moderada de Moro (“Ele quis estancar os boatos, mas sem fechar as portas”),
Jerusa Viecili respondeu: “o ‘sem fechar as portas’ é que é perigoso para um
juiz.”
No dia 31 de outubro, véspera do anúncio, a preocupação
dos procuradores deu lugar à raiva e até pânico quando foi postado no
grupo Winter is Coming um artigo
de O Globo com a notícia que Moro viajaria ao Rio de Janeiro para um
encontro com Bolsonaro na casa do presidente recém-eleito. Enquanto o sempre
leal Deltan defendia Moro sozinho, os outros procuradores manifestavam sua
indignação:
31 de outubro de 2018 – Winter is Coming
Janice Ascari – 08:06:11 – Moro se perdeu na
vaidade. Que pena.
João Carlos de Carvalho Rocha – 08:10:31 – Ele
se perdeu e pode levar a Lava Jato junto. Com essa adesão ao governo eleito
toda a operação fica com cara de “República do Galeão”, uma das primeiras
erupções do moralismo redentorista na política brasileira e que plantou as
sementes para o que veio dez anos depois.
Às 9h36, Ascari completaria, no mesmo grupo: “Se Moro
topar ser MJ, para mim será a sinalização de estar de olho na próxima campanha
presidencial.”
Simultaneamente, o assunto mobilizava o grupo Filhos
do Januario 3.
31 de outubro de 2018 – Filhos do Januario 3
Jerusa Viecili – 08:48:20 – Espero que não seja
verdade 

Jerusa Viecili – 08:48:20 – https://glo.bo/2JrHJrR
Deltan Dallagnol – 08:51:47 – Ótima decisão pras
leniências tb
Deltan Dallagnol – 08:52:47 – Ele vai checar lá.
Ficou 1 ano sozinho. Acho que pessoal será sensível, mas veremos
Deltan Dallagnol – 08:54:16 – Acho que não vai
converter nem desconverter ng do que já acha sobre a LJ, nesse ponto
Jerusa Viecili – 08:55:38 – Não é sobre converter as
pessoas. É sobre preservar a LJ.
Laura Tessler – 08:57:25 – Tb acho péssimo. MJ nem
pensar… além de ele não ter poder para fazer mudanças positivas, vai queimar a
LJ. Já tem gente falando que isso mostraria a parcialidade dele ao julgar o PT.
E o discurso vai pegar. Péssimo. E Bozo é muito mal visto… se juntar a ele vai
queimar o Moro
Jerusa Viecili – 08:59:58 – E queimando o moro
queima a LJ
Isabel Groba – 09:18:58 – É realmente péssimo. O
nome da LJ não pode ser conspurcado.
Andrey Mendonça – 09:19:27 – Para ministro do
stf, acho otimo. Para ministro da justiça acho que vai dar azo – com razão – a
argumentos de politização da lava jato.
Andrey Mendonça – 09:20:24 – Lembro de um promotor
italiano em um artigo q falava sobre maos limpas. Terminava dizendo: e nunca
entrem na política
Isabel Groba – 09:22:30 – Isso! E pra ser Ministro
do STF precisa abrir vaga. Então, ainda que em futuro próximo, isso ficaria
para um momento posterior. E, depois, como Ministro pode rechaçar medidas reacionárias
que venham.
Isabel Groba – 09:23:17 – Como Ministro do STF
À medida que apareciam na imprensa as notícias de que
Moro estava negociando com Bolsonaro um superministério com poderes expandidos,
o procurador Ângelo Augusto Costa chamou a atenção do grupo BD para o
precedente perigoso que estava sendo criado: “Não eh muita coisa? Acho que o
próprio Bolsonaro vai ficar com medo. Rs. Isso sem falar de quem vem depois.
Moro, ok, mas nada eh eterno. Esse super MJ pode virar uma máquina de
perseguição política.”
Mesmo os poucos defensores que o juiz ainda tinha
passaram a admitir o que era antes impensável assim que a notícia de que ele
havia aceitado o ministério se espalhou: as constantes reclamações do PT – de
perseguição por parte da Lava Jato e de partidarismo e motivação política por
parte de Moro – ganhariam credibilidade, e que todo o trabalho da Lava Jato
seria contaminado pela aventura política de Moro:
1º de novembro de 2018 – grupo BD
Monique Cheker – 10:50:46 – Um general da ativa não
teria “argumento de autoridade” para atropelar o sistema acusatório. Moro fará
com diploma em Harvard e com o nome da lava jato.
Monique Cheker – 10:51:23 – Mas concordo com a fala
de Robalinho de que já passamos coisas piores
Janice Ascari – 10:55:15 – Moro aceitou
Janice Ascari – 10:55:19 –https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/moro-aceita-ministerio/?utm_source=twitter:newsfeed&utm_medium=social-organic&utm_campaign=redes-sociais:112018:e&utm_content=:::&utm_term=
Luiza – 10:56:16 – Moro aceitou
Alan Mansur – 10:57:25 – GloboNews diz que Moro
aceitou e fará uma nota daqui a pouco
Monique Cheker – 11:00:03 – Pessoal da AGU surtando…
Monique Cheker – 11:00:03 – “@onyxlorenzoni
Deputado. A AGU é função essencial à Justiça prevista na CF. Não precisa ser
vinculada a nenhum ministério. @jairbolsonaro”
Monique Cheker – 11:00:03 – TT que estão
espalhando 

Ângelo Augusto Costa – 11:00:39 – De alegria, né?
Ângelo Augusto Costa – 11:00:51 – Próximo passo eh
lista tríplice
Alan Mansur – 11:00:56 – Tem toda a técnica e
conhecimento para ser um excelente ministro da Justiça. E tentar colocar em
prática tudo que ele acredita. Porém, o fato de ter aceitado, neste momento,
entrar na política e desta forma, é muito ruim pra imagem de imparcialidade do
sistema de justiça e MP em geral.
Alan Mansur – 11:01:59 – Será ainda mais marcado por
parcialidade. E sempre ficará o comentário, Moro fez tudo isso para assumir o
poder.
Alan Mansur – 11:02:46 – Pelo lado da técnica, ele
será um excelente Ministro e acho que vai ajudar em muito a organização do
sistema. Mas teremos que lidar com esta crítica constante
Minutos depois, os procuradores do grupo BD começaram
a se preocupar em como a nomeação de Moro serviria de munição para o PT contra
a Lava Jato. “Acho que o PT deve estar em festa agora, para justificar todo o
discurso deles”, escreveu Alan Mansur. Peterson de Paula Pereira, procurador da
República no Distrito Federal, disse que a decisão de Moro mostrava como ele
atuava contra o ex-presidente Lula: “Fica claro que ele tinha Lula como
troféu”. Para Monique Cheker, o movimento do ex-juiz passava uma imagem de que
ele estava fazendo uma “escadinha” política com a Lava Jato:
1º de novembro de 2018 – grupo BD
Monique Cheker – 11:27:01 – Diferente se fosse ao
STF direto. Seria perfeito. Políticos precisam obedecer prazos de
desincompatibilidade. Por que não juízes e membros do MP? O distanciamento é
importante numa república. Não basta ser honesto, tem que parecer honesto.
Enfim.
Alan Mansur 11:28:04 – [imagem não encontrada]
Monique Cheker – 11:28:23 – E a “escadinha” disso
tudo foi terrível: Moro ajudou a derrubar a esquerda, sua esposa fez propaganda
para Bolsonaro e ele agora assume um cargo político. Não podemos olhar isso e
achar natural 

Em 6 de novembro, dias depois de Moro ter aceitado o
convite, mesmo Deltan Dallagnol, o procurador mais leal a Moro, confessou estar
preocupado com os danos causados à reputação e à credibilidade do trabalho
realizado por cinco anos pela operação Lava Jato. Ele e a procuradora Janice
Ascari concordaram em uma conversa entre os dois que a conduta de Moro gerava
“uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão”. Mesmo assim, os
dois continuariam a defendê-lo.
6 de novembro de 2018 – chat privado
Deltan Dallagnol – 11:50:41 – Jan, não sei qual sua
posição sobre a saída do Moro pro MJ, mas temos uma preocupação sobre alegações
de parcialidade que virão. Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo
do corpo que isso possa tomar na opiniã pública. Na minha perspectiva pessoal,
hoje, Moro e LJ estão intimamente vinculados no imaginário social, então
defender o Moro é defender a LJ e vice-versa. Ainda que eu tenha alguma
ponderação pessoal sobre a saída dele, que fiz diretamente a ele, é algo que
seria importante – se Vc concordar – defender… Quanto à delação do Palocci, tema
em que podem entrar, expliquei essa questão na minha entrevista da Folha de
umas semanas atrás, não sei se chegou a ver, então mando aqui… bjus
Janice Ascari – 12:55:05 – Oi querido, nosso
pensamento é convergente. Também me preocupo com esse aspecto da parcialidade
dele, porque põe em dúvida, também, o trabalho do MPF. Pretendo, além de,
claro, defender a LJ como sempre faço (até quando não concordo com algumas
coisas rsrs), mostrar que o Ministério da Justiça tem muita coisa com que se
preocupar além da LJ, que continuará com Moro ou sem Moro.
Num outro grupo integrado por procuradores e assessores
de imprensa da força-tarefa no Paraná, um dos jornalistas revela que Carlos
Fernando dos Santos Lima “torcia” para que Moro recusasse o convite do
presidente de extrema-direita: “CFmesmo, disse estar torcendo pra ele não
aceitar”. “Creio que o que eu tinha para falar, já está falado. Agora é rezar
para que ele não aceite”, prosseguiu Santos Lima, de acordo com o relato de seu
assessor.
Em resposta a nossos contatos, o porta-voz da
força-tarefa da Lava Jato enviou o que já se tornou sua resposta padrão,
evitando qualquer comentário sobre o conteúdo da reportagem e preferindo
insinuar falsa e levianamente que as conversas podem não ser autênticas: “O
trecho do material enviado à Força-Tarefa não permite constatar o contexto e a
veracidade do conteúdo. Autoridades públicas foram alvo de ataque hacker
criminoso, o que torna impossível aferir se houve edições no material
alegadamente obtido. A Lava Jato é sustentada com base em provas robustas e em
denúncias consistentes, analisadas e validadas por diferentes instâncias do
Judiciário. Os integrantes da Força-Tarefa pautam suas ações pessoais e
profissionais pela ética e pela legalidade.”
A procuradora Monique Cheker disse que “não tem registro
da mensagem enviada e, portanto, não reconhece a suposta manifestação”. “A
procuradora ainda afirma que são públicas e notórias as incontáveis
manifestações de apoio à operação Lava Jato e ao então juiz Sérgio Moro”,
acrescentou sua assessoria. O procurador regional da República Luiz Fernando
Lessa esclareceu que, desde recentes ataques ao Telegram, não possui mais o
aplicativo nem as mensagens trocadas por meio dele, de modo que não reconhece
as mensagens. Demais procuradores que não fazem parte da força-tarefa foram procurados
e não responderam até a publicação deste texto. Eventuais comentários serão
publicados se forem enviados ao Intercept.
O Intercept publicou a
primeira reportagem sobre a #VazaJato há menos de três semanas. Desde
então, o trabalho jornalístico realizado pelo Intercept – bem como pela Folha
de S.Paulo e pelo
jornalista Reinaldo Azevedo, da BandNews – demonstrou de forma clara que
Sergio Moro violou repetidamente as normas éticas da magistratura, não
exercendo seu poder judicial “pautado pela ética e pela legalidade”, mas
cometendo diversos desvios éticos e atropelando os procedimentos legais.
Ao passo que essas revelações chocaram boa parte dos
brasileiros, a imagem que emerge das conversas é que, entre os procuradores, o
comportamento antiético e politizado de Moro já era há muito conhecido. Quando
ficou claro que os desvios de Moro poderiam causar prejuízos ao trabalho da
força-tarefa, os procuradores passar a expressar suas críticas – ao menos
quando pensavam estar falando de forma privada – de forma bastante clara,
sincera e raivosa.
Correção em 29 de junho de 2019, 9h40
Devido a um erro de digitação, marcamos uma conversa
do grupo BD como se ele tivesse ocorrido em 1º de novembro de 2019,
quando, na verdade, a data era 1º de novembro de 2018. Isso já
foi corrigido.
Correção: 29 de junho de 2019, 10h30
A primeira versão desse texto indicava que a
procuradora Monique Checker atua no Ministério Público Federal em Barueri e
Osasco, São Paulo. Na verdade, ela trabalha no Ministério Público Federal de
Petrópolis, RJ. Isso já foi corrigido.
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