Como escreveu certa vez Carlos Drummond de Andrade, Deus às
vezes é terrível em sua criação. Por que me lembro disso agora? Vai aqui a
explicação. Quando eu olho para uma fotografia do presidente do Brasil, Jair
Bolsonaro, eu me lembro da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher –
longe de ser por alguma similaridade fisionômica, e, mais longe ainda, pelo
lado do temperamento e da estatura de governar. Thatcher era gigante, Bolsonaro
é da altura de um rodapé – aliás, da altura com a qual entrará para a história,
ou seja, COMO NOTA DE RODAPÉ. Se tanto. Digo isso para falar de empatia. Não
adianta explicar o que é empatia para quem não a sente, só compreende o seu
sentido quem consegue absorvê-lo pela emoção e não apenas pela razão.
Pois bem, resumidamente, empatia é colocar-se no lugar do
outro nos momentos em que esse outro atravessa horas difíceis. As pessoas
nascem ou não empáticas, e não ter esse componente na personalidade é bastante
grave (vale perguntar a algum psiquiatra). Margaret Thatcher tinha empatia,
governou com extrema austeridade, seriedade e competência, colocando-se no
lugar daqueles que amargavam uma combalida economia na Inglaterra sob a crise
que se prolongou no pós-guerra.
Bolsonaro é justamente o inverso. Preside um Brasil com 3,347
milhões de pessoas desesperadas por estarem padecendo daquilo que os
economistas chamam de “desemprego de longa duração” – atualmente, na situação
de “desemprego de longa duração”, está um a cada quatro brasileiros
desempregados. É desesperador, mas somente para quem tem empatia. Não é o caso
de Bolsonaro, que segue governando como se estivesse em um parque de diversão,
falando bobagens a cada dia, preocupado com detalhes da moral feito um delegado
de costumes, exercendo o nepotismo, fugindo do trabalho duro e divertindo-se
muito. Causa impacto pelas tolices que diz e faz.
Militar medíocre, pouco querido no interior das próprias
Forças Armadas (embora ele se ache muito amado nas três Armas), Bolsonaro não
lembra de que é hora de governar com seriedade, não se coloca no lugar desses
3,3 milhões de brasileiros. Ou melhor: não é que ele não se lembre, o certo é
que ele não pode e não consegue se lembrar (no âmbito biopsicossocial), porque
também a lembrança remete à empatia (e, frise-se, vale a pena perguntar sobre
isso a um médico). A espécie humana já gerou gente como Thatcher… mas, de fato,
Deus às vezes é terrível e cruel em sua criação.
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