Queria escrever sobre outro assunto. Fiz até promessa de que
nesta quinta não trataria de Bolsonaro. Tantos assuntos interessantes e
importantes para serem discutidos, e a gente perdendo tempo com bolsonarices. A
semana era boa para atender ao compromisso. O presidente seria internado para
uma cirurgia reparadora na parede do abdome e ficaria fora de combate pelo
menos até hoje ou amanhã. Perfeito, mamão com açúcar, cinco dias sem a palavra
presidencial era um bom início. Já havia separado três ou quatro temas que
poderiam ser objeto deste artigo. Mas, infelizmente, não, eles terão de
esperar. Na ausência do pai, os filhos assumiram as bizarrices e me obrigaram a
quebrar a promessa.
Cheguei a pensar em deixar pra lá. Afinal, que diferença faz
o que diz o Carlos? E que importância tem o que o Eduardo porta na cintura?
Nenhuma. São dois homens medíocres que só se destacam porque seu pai foi eleito
presidente do Brasil. Ao contrário de Paulo Henrique, Fábio Luís, Paula e
Luciana, filhos de presidentes que não se intrometiam nos assuntos do Estado,
os dois, e mais o senador que empregou o Queiroz, se metem, e se metem muito.
Já imaginou o tamanho da confusão se Paulo Henrique aparecesse ao lado do pai
com uma pistola na cintura? Ou se Fábio Luís fosse ao Twitter dizer que a
democracia atrapalha seu pai a implementar as mudanças de que o país precisa?
Ao dizer que a transformação que julga necessária para o
Brasil não virá pela via democrática na velocidade almejada, Carlos Bolsonaro
exerceu no limite a tolerância da democracia. Em qualquer outro regime, ele
seria preso ou no mínimo teria seu mandato cassado se atacasse a base desse
regime. O filho do presidente mais uma vez falou com o intestino, o que não
surpreende mais. Se houvesse no Brasil força para interromper a democracia, o
que não há, o primeiro a perder seria o próprio Jair Bolsonaro. Ou será que
Carlos imagina que se daria um golpe antidemocrático para entregar ao capitão
mais poder? Uma ruptura institucional só ocorreria com a deposição do
presidente, deste presidente.
De resto, a declaração apenas reitera o desapreço que o Zero
Dois e seus irmãos têm pelo contraditório (um deles sugeriu, antes da eleição,
que o STF poderia ser fechado por um cabo e um soldado). Tão logo Carlos
proferiu a asneira, as redes trovejaram sobre o filhote presidencial, e ele
então voltou suas baterias contra quem? Contra os jornalistas. E tentou se
explicar. Ficou ridículo. Nas suas palavras: “O que falei: por via democrática
as coisas não mudam rapidamente. É um fato (…) O que os jornalistas espalharam:
Carlos Bolsonaro defende a ditadura. Canalhas!”. Essa é a beleza da democracia.
Até mesmo vilipêndios proferidos contra ela são por ela tolerados.
Todo mundo, à exceção dos que estão incondicionalmente com
os Bolsonaro e não enxergam muito mais do que um palmo adiante do nariz, reagiu
ao insulto proferido contra a democracia. Desnecessário, portanto, listar os
que lamentaram a declaração desprezível. Mas vale a pena anotar o que disse um
general, o vice-presidente Hamilton Mourão. Para ele, democracia, com
capitalismo e sociedade civil forte, é pilar da civilização. “Temos que
negociar com a rapaziada do outro lado da praça (referindo-se ao Congresso e à Praça
dos Três Poderes), e com paciência”, disse Mourão ao responder sobre a infâmia
de Carlos Bolsonaro.
No mesmo dia, outro filho, o Eduardo, foi visitar o pai no
hospital. E o que fez o engraçadinho? Publicou um post em que está ao lado da
cama do pai com uma pistola na cintura. Nossa, que medo. O filhote Zero Três
estava lá para defender o patriarca… do que mesmo? Talvez de um outro ataque,
imagino que imaginou. Além de sinalizar que a segurança oferecida pelo GSI não
vale nada, ele parecia querer mostrar quem manda no pedaço. Nesse caso, estamos
mesmo encrencados e em breve poderemos ter um outro problema. Se Eduardo passar
pela sabatina do Senado e virar embaixador nos Estados Unidos, quem vai tomar
conta de daddy ?


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