Para generais, Weintraub é o ministro da ‘falta de educação’
No dia da República, o ministro da Educação do governo
de Jair Bolsonaro, Abraham Weintraub,
resolveu achincalhar o marechal Deodoro da Fonseca, chamando-o de
traidor, e escolheu a data cívica para comparar o oficial ao petista Luiz
Inácio Lula da Silva, condenado pela Lava Jato.
Dado o ódio que dedica ao ex-presidente, podemos imaginar o
tamanho da ofensa que o ministro queria dirigir ao marechal que proclamou a
República há 130 anos.
Weintraub se candidata assim ao cargo de Olavo
de Carvalho da Esplanada, pelo agravo aos militares e às tradições do
Exército brasileiro. A ofensa não recai só sobre o velho marechal. Os cadetes
que entram nas Agulhas Negras logo se familiarizam com a imagem de Deodoro no
dia 15 de Novembro de 1889.
Abraham Weintraub
@AbrahamWeint
Chegamos ao
traidor: tinha a confiança do Imperador, participou do golpe e não teve coragem
de falar pessoalmente com Dom Pedro II que ele e sua família seriam exilados. O
Brasil foi entregue às famílias oligarcas que, além do poderio econômico,
queriam a supremacia política.
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“Nunca vi nada igual”, disse sobre o ataque um general que
passou pelo Comando Militar do Planalto e pelo Comando Militar do Sudeste.
“Faltam educação e civismo ao ministro da Educação”, afirmou. “E respeito às
Forças Armadas”, completou um coronel.
Dias antes, o general Edson Pujol, comandante do
Exército, dera
uma lição em texto publicado pelo ‘Estado‘ sobre o papel do
Exército na Proclamação da República. Disse Pujol sobre o republicanismo e os
militares:
“Tal posicionamento refletia a adesão à causa republicana de
parcela da oficialidade, em grande parte jovens influenciados pelas ideias
positivistas de Augusto Comte, professadas pelo tenente-coronel Benjamin
Constant e difundidas em sua cátedra na Escola Militar da Praia Vermelha. Com a
criação do Clube Militar, em 1887, sob a liderança do marechal Deodoro e do
próprio Benjamin Constant, fortaleceu-se a participação do Exército na mudança
do regime.”
O dançarino Weintraub tem o direito de ser monarquista.
Dentro e fora do governo. Mas, dentro dele, deve saber que é um ministro e não
devia ofender a memória de Deodoro. Weintraub desrespeita não só o marechal.
Também ataca os valores republicanos ao chamar a Proclamação de “infâmia”.
A República é o governo das leis, contra os privilégios, em
busca do bem comum. O ministro se compraz com suas convicções. Esquece da
escravidão, do Conselho de Estado, do Senado vitalício, do governo
irresponsável… O problema é que os fatos criam aporias insuperáveis às visões
desconectadas do real. Sobra-lhe um discurso vazio, sem a ossatura da
realidade.
O agravo ao marechal esquece ainda que ele foi um herói da
Guerra do Paraguai, de combates como Tuiuti, Humaitá, Curupaiti e outros. Ele
transforma a honra do militar em artigo para memes lacradores nas redes
sociais. Nada mais vulgar.
O ministro age dentro da lógica da milícia virtual que o
bolsonarismo mantém na internet, que se diverte ao enxovalhar a honra e ameaçar
a família dos que se lhe opõem. Que o digam a
deputada federal Joice Hasselmann e o ex-ministro Gustavo
Bebianno.
O bolsonarismo cria as próprias crises que põem em risco o
governo, como salientou, recentemente, o general Paulo Chagas. Como resposta ao
ministro, Deodoro poderia repetir o que disse em entrevista dois meses antes de
dar cabo ao regime monárquico: “Se tivesse de ir ao céu, São Pedro servir-me-ia
de vaqueano; se tivesse de ir ao inferno, pediria a qualquer político que me
guiasse.”
O leitor viu aqui que o
general Pujol explicou o sentido da participação do Exército na República.
“Transcorridos 130 anos de experiência republicana, os integrantes do Exército
de hoje encontram-se empenhados em um processo de transformação com vistas à
obtenção de novas capacidades para o cumprimento de renovadas missões. Mas
mantêm o compromisso legado pelas gerações passadas, calcando no culto à
liberdade e à democracia e no amor à Pátria, o que confere ao Exército os mais
altos índices de credibilidade junto à Nação brasileira.”
Weintraub, o ministro da falta de educação – nas palavras de
outro general -, não se desculpará pela ofensa a Deodoro. Ele conta com o
silêncio do capitão Jair Bolsonaro diante do agravo lançado ao marechal. São
circunstâncias como essa que demonstram o quanto os valores militares e da
República são importantes para o presidente e para seu governo.
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