O economista Fabio Giambiagi esteve na Argentina já no
governo Alberto Fernández e avalia que a atual política econômica pode
conseguir um pequeno superávit fiscal este ano. A inflação deve cair, mas será
por pouco tempo, já que a política é a de controle de preços. Depois, voltará a
subir e pode chegar nos próximos anos a até a 100%. “Em matéria de preços é o
velho peronismo de sempre. Eu assisti o lançamento do programa precios
cuidados, parecia o Brasil dos anos 1980.”
Ele admite que a impressão que fica do governo Alberto
Fernández é até melhor do que se imaginava. No pacote de ajuste fiscal há
algumas medidas duras, mas os sindicatos não reagiram. Se fosse outro governo,
eles já estariam na rua. “Agora os tigres miam”:
— Claro que o pacote é controverso porque faz o ajuste pelo
lado da receita em vez de corte de gastos. O governo Macri havia reduzido o
déficit para 1% do PIB, mas o pacote Ferández é de 1% a 1,5% do PIB, o que pode
levar ao superávit.
A Argentina tem diversos outros problemas. Um deles, o mais
grave talvez, é que não tem reservas, tem uma dívida alta e com parcelas em
atraso. Essa fragilidade se agravou no governo Macri. Desde o período de
Cristina Kirchner o problema vem sendo enfrentado através do cepo cambiário,
que ninguém desconhece o que seja na Argentina: são medidas que limitam o
acesso à moeda americana.
— O governo impôs de novo as retenciones, taxações de
exportações, que geram muitas distorções, mas o governo está taxando onde está
o dinheiro. O campo gira muitos recursos. A ideia da política econômica é que
quem está pagando os impostos é quem votou em Macri. Há um IOF de 30% sobre
aquisição de divisas. Como os ricos viajam mais para o exterior, eles pagam 30%
sobre 63 pesos e aí vai para mais de 80. A cotação oficial está em torno de 60
pesos — disse Fábio.
Giambiagi acha que houve um fato complicado na Argentina.
Quando o peronismo venceu com larga vantagem as primárias, a eleição virou
apenas uma formalidade, e isso fez com que Alberto Fernández não tivesse
incentivo para negociar. O dólar subiu rápido e Macri teve que tomar medidas de
aumento de controle.
Quando assumiu, ele adotou esse ajuste pelo lado da receita.
Atingiu não apenas os produtores rurais e os turistas, mas também os
aposentados:
— Havia uma regra que vinha da reforma da Previdência de
Macri, que foi na verdade a reforma de um indexador. Era um mecanismo
tradicional de indexação. Fernández aboliu isso e deu um valor fixo para quem
ganha menos e deixou sem regras as aposentadorias, acima de um determinado
valor. Só vai corrigir se tiver condições. Imagina isso num país com uma
inflação de 55%. Só que os sindicatos, por ser um governo peronista, não
reclamaram.
Giambiagi acha que o temor de que a vice-presidente,
Cristina Kirchner, mandaria em tudo não se confirma:
— No jogo de forças internas temia-se as ideias
intervencionistas de Cristina. Mas houve de fato uma coalizão dentro do
peronismo — e é engraçado falar em coalizão dentro de um mesmo partido — entre
as muitas facções. Nesse acordo, Cristina ficou com quatro áreas. Justiça,
Receita Federal, o Senado e a Província de Buenos Aires.
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