Às 23h desta sexta-feira (31/1), o Reino Unido se separa
oficialmente da União Europeia (UE), pondo fim a uma novela que se estendeu por
mais de três anos.
No plano econômico, o divórcio é um tiro no pé. Os
britânicos estão abrindo mão de acesso privilegiado a um mercado de mais de 500
milhões de pessoas e criando “ex nihilo” sérias dificuldades para suas
empresas. A aventura custará ao Reino Unido entre dois e oito pontos do PIB até
2034, segundo estimativa do próprio governo.
Se é tão ruim assim, por que os britânicos decidiram sair?
Europeístas até podiam afirmar que os eleitores foram enganados no plebiscito
de 2016, no qual a campanha pelo brexit abusou das fake news. Mas não vejo como
insistir neste argumento após a vitória de Boris Johnson em dezembro. O brexit
foi o tema dominante na eleição, que teve lugar após anos de debates. A matéria
estava madura para ir a voto.
Minha hipótese para explicar o fenômeno é o desejo de
controle. Seres humanos somos obcecados por nos sentir no controle. Há um
experimento bem maluco da psicologia em que voluntários são colocados diante de
luzes que piscam num padrão aleatório e instruídos a apertar um botão, que não
faz rigorosamente nada —embora as cobaias não saibam disso. Em pouco tempo, a
maioria jura que controla as luzes.
Esse viés, creio, alimenta a narrativa de que, com o brexit,
os britânicos decidirão seu futuro sem a interferência de estrangeiros e
voltarão a ter domínio sobre suas fronteiras. É pura ilusão, porque o eleitor
só tem controle de fato sobre o seu próprio voto, cujo peso é irrisório em
qualquer pleito maior que o para síndico de prédio. Sob essa perspectiva, não
faz tanta diferença se as políticas são definidas em Londres ou em Bruxelas.
Curiosamente, essa ilusão de controle é um dos elementos de
legitimação da democracia, ao criar a sensação de que cada voto conta.
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