O que sobra em empáfia a Abraham Weintraub, nas redes
sociais, lhe falta em competência à frente do Ministério da Educação. Sob sua
administração, o MEC tem sido fonte inesgotável de más notícias para o ensino e
a pesquisa no Brasil.
Considere-se a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes). Fundamental para a pós-graduação e a formação de
professores, o órgão está no centro de uma polêmica porque Weintraub escolheu
para dirigi-la um adepto do criacionismo.
Ressalve-se que o currículo acadêmico de Benedito Aguiar,
ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, parece adequado para a
função. Numa instituição confessional como a que dirigiu, seria aceitável o
ensino da doutrina religiosa segundo a qual todas as espécies são obra de Deus,
não tanto da seleção natural neodarwiniana.
Aguiar, entretanto, subscreve a corrente do design inteligente,
ou criacionismo “científico”, coisa que não é. Nessa forma de pensar,
estruturas complexas dos organismos, como os olhos, teriam de ser projeto de
uma inteligência superior, e não fruto do acaso (como é seu hábito caricaturar
a teoria de Charles Darwin aperfeiçoada com o advento da genética).
A mera possibilidade de que o presidente da Capes carreie
recursos da instituição para fomentar estudos de inspiração religiosa e
incompatíveis com a ciência contemporânea já seria motivo para não o indicar ao
cargo.
O mau passo na Capes comporta riscos para o futuro, mas no
presente a gestão de Weintraub já produziu prejuízo concreto para milhões de
estudantes com o naufrágio
logístico do último Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Erros em milhares de notas puseram sob suspeição a prova.
Weintraub, com seu arrojo irresponsável, não interrompeu a seleção para
universidades federais que as toma por base. Contaminado pela judicialização, o
processo mantém em suspense legiões de jovens num momento decisivo de suas
vidas.
O MEC age como se tudo estivesse sob controle, e não está.
Deixa sem resposta candidatos que questionam o resultado de suas avaliações ao
mesmo tempo em que o ministro intercede
pela filha de um apoiador de Bolsonaro que lhe dirigiu um apelo por
rede social.
Weintraub troca as mãos pelos pés em quase tudo que toca. Na
contramão da internacionalização da pesquisa, limitou viagens nas universidades
federais. Deixou
parado R$ 1 bilhão a que o MEC faria jus do dinheiro retomado pela
Lava Jato. Elevou o piso nacional no ensino básico sem levar em conta a
periclitante situação orçamentária de estados e municípios.
Até aqui, Jair Bolsonaro só produziu fiascos no MEC. Até
quando?
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