HÁ 49 ANOS, RUBENS PAIVA ERA SEQUESTRADO E TORTURADO PELA
DITADURA MILITAR BRASILEIRA
Dando título à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo,
poucos nomes têm o tamanho de Rubens Paiva quando se trata da resistência à
repressão ditatorial dos militares nos anos 1970. Engenheiro do Mackenzie,
Rubens foi militante estudantil em São Paulo, antes de ser nomeado como
deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro, o mesmo do então
presidente João
Goulart.
Quando o Exército Brasileiro tomou o Congresso Nacional,
consumando o Golpe que derrubou Jango, Paiva fez um importante discurso onde
convocava estudantes e trabalhadores à resistência, tornando-se, já nesse
momento, alvo dos militares golpistas que instaurariam uma sangrenta ditadura
no país. Foi cassado e se exilou na Iugoslávia,
voltando um ano depois ao Rio de Janeiro.
Rubens se tornou símbolo da série de desaparecidos políticos
que foram presos pelo governo e nunca mais voltaram, crime que era legitimado
pelo AI-5. Assim
como muitos militantes da oposição, seu corpo nunca foi encontrado, levando à
agonia, ao mesmo tempo que a coragem, da família ao buscar justiça contra o
malgrado da repressão.
Sua prisão ocorreu no dia 20 de Janeiro de 1971, quando a
polícia invadiu sua casa, mesmo sem mandato, e ordenou que fosse levado à
delegacia. Sem resistência, Rubens Paiva acalmou os invasores e pediu que
embainhassem as armas, se trocou e acompanhou os militares até o
estacionamento.
Paiva dirigia o próprio carro quando foi levado pelas
autoridades. Quando a família conseguiu recuperar a máquina, nas dependências
dos policiais, foi provado que o engenheiro havia sido preso (fato negado
duramente pela repressão). Junto a Rubens, foram presas Eunice, sua esposa (por
doze dias) e Eliana, sua filha (por um dia).
Do quartel, Rubens foi transferido para o DOI-CODI, onde foi
interrogado, torturado e assassinado por militares do regime. No entanto,
segundo a versão oficial do Exército, o militante de esquerda teria sido
sequestrado por bandidos dois dias depois de sua prisão, e os militares teriam
perdido sua localização.
Mesmo assim, com as investigações proporcionadas pela
Comissão Nacional da Verdade foi catalogado o depoimento do coronel da
Reserva Paulo
Malhães, que confirmou a versão da família de que Rubens Paiva foi
torturado até a morte por agentes do Estado. Seu corpo foi jogado em um rio na
serra fluminense.
A investigação de 2014 comprovou o que havia sido revelado
apenas em 2012, quando, com a divulgação de documentos da repressão, foi
encontrada a única prova documental de que Rubens Paiva havia sido preso pelas
Forças Armadas: estava provado oficialmente pelo Informe nº 70 do DOI-CODI do
Rio, datado de 25 de janeiro de 1971, em que membros da CISA, órgão da
inteligência da Aeronáutica, declaravam que Rubens "foi localizado, detido
e levado para o QG da 3ª Zona Aérea".
A versão está de acordo com testemunhos relatados por Elio
Gaspari que afirmam que, após as sessões de tortura de Paiva, um médico,
Amílcar Lobo, teria sido convocado para analisar os ferimentos do engenheiro,
encontrando o prisioneiro nu deitado na cela em posição fetal, olhos fechados e
com marcas de espancamento e hemorragias internas. Já naquele momento, era
claro que a causa da morte dele tinha sido a tortura.
Depois, o também coronel Reynaldo Campos declarou ao
Ministério Público que o Exército articulou para simular provas de que o
engenheiro havia fugido do DOI. Com isso, foi comprovada a falsidade da versão
do Exército.
+ Saiba mais sobre esse tema pelas obras abaixo:
1. Relampejos do Passado: Memória e Luto dos Familiares
de Desaparecidos Políticos da Ditadura Civil Militar Brasileira - https://amzn.to/2RyRaKp
2. Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva - https://amzn.to/2R8RyjQ
3. Dos filhos deste solo: mortos e desaparecidos
políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado - https://amzn.to/37ci7Kr
Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos
produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso,
assinantes Amazon Prime recebem
os produtos com mais rapidez e frete grátis, e a revista Aventuras na História
pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links
nesta página.
Nenhum comentário:
Postar um comentário