É hora de solidariedade com a China, não de racismo
Um passageiro chinês começou a tossir a bordo de um voo da
Lufthansa de Frankfurt para a China, criando a maior confusão ao seu redor,
nesta quarta-feira (29/01). A situação não melhorou nada depois de ele declarar
que, duas semanas antes, estivera em Wuhan, a metrópole que é o epicentro do
surto de coronavírus e que foi isolada pelas autoridades locais.
A confusão chegou até a cabine. O capitão, porém, permaneceu
calmo e seguiu viagem, pousando sem problemas no seu destino. A tripulação e os
passageiros das poltronas perto do chinês foram logo examinados. Horas depois
veio o alívio: ninguém estava infectado pelo coronavírus.
A rápida propagação desse vírus potencialmente letal deixa
gente de todo o mundo insegura. E a ampla cobertura da mídia sensibilizou para
o problema. Só que muitas vezes a distância entre sensibilização e reação
exagerada pode ser curta: asiáticos tossindo logo viram alvo de olhares
ameaçadores, como se todos fossem portadores do perigoso coronavírus 2019-nCov.
Em Hamburgo, um deles foi alvo de insultos racistas.
"Ih, você está com o vírus da China?" é uma
pergunta comum nestes dias. Basta um nariz escorrendo. A expressão "vírus
da China" joga a culpa sobre quem é vítima: a China é o país que mais
sofre com o surto e está fazendo um enorme esforço, com uma transparência
única, para quebrar a onda de infecções.
Na China, evita-se usar a expressão "vírus de
Wuhan" pois estigmatiza toda uma cidade. Não são os moradores de Wuhan que
transmitem a doença ou espalham o pânico, mas o vírus, que poderia ter surgido
em qualquer lugar do planeta.
Em Wuhan, onde as autoridades aconselham os residentes a não
saírem de casa, milhões dão prova de disciplina e sacrificam sua liberdade de
ir e vir para que a doença não se espalhe ainda mais. Vídeos mostram moradores
de um bairro que se comunicam por megafones em vez de se encontrarem.
A melhor proteção contra uma infecção é lavar as mãos com
frequência, é sobretudo assim que se minimiza o risco. Segurança total não
existe, muito menos num mundo tão globalizado, em que não só pessoas e
produtos, mas também agentes patogênicos, viajam ao redor do planeta em poucas
horas.
Afastar-se de indivíduos de aparência asiática não oferece
nenhuma proteção adicional. O coronavírus não precisa de visto para entrar num
país e não escolhe suas vítimas pelo tamanho do nariz ou formato dos olhos.
Neste momento, a palavra de ordem é solidariedade. Enquanto
não se souber exatamente onde o vírus surgiu, de nada servem acusações de
culpa, pânico e muito menos comentários racistas sobre supostos hábitos de
alimentação e higiene dos chineses.
Pelo que se sabe até agora, o coronavírus não é mais
perigoso do que, por exemplo, as ondas de gripe que atingem a Alemanha todos os
anos. Vamos, portanto, superar as barreiras emocionais e analisar a situação de
forma serena e racional, para chegar a recomendações de ação sensatas.
Em chinês, afinal, a Alemanha se chama De Guo:
Terra da Moral.
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