A grande preocupação do governo, nesse momento em que a
disseminação da covid-19 assume proporções dramáticas, é preservar vidas e
salvar o maior número de empresas possível para que haja uma estrutura na economia
capaz de reagir quando o coronavírus for se enfraquecendo. Recessão se mostra
inevitável, sobretudo a partir do segundo trimestre, mas também ainda neste
primeiro trimestre o Produto Interno Bruto já poderá vir negativo.
O tamanho do tombo na economia vai depender da duração, do
tempo em que o coronavírus estiver se multiplicando. Segundo os gráficos
abaixo, na China a situação se estabilizou em um tempo relativamente rápido. A
curva da pandemia é côncava.
Para a atividade econômica, a situação é terrível. “É um
fosso sem piso”, diz Silvia Matos, economista coordenadora do Boletim Macro do
Ibre/FGV, cuja missão, agora, é recalcular todos os indicadores macroeconômicos
para este ano. Ela está trabalhando em casa, assim como toda a sua equipe. “É
uma situação de guerra mesmo! Não tem como pensar em economia funcionando. A
economia real não é no home office!”
Nesse ambiente, o que vai acontecer com a política fiscal,
com a inflação ou com o endividamento do setor público, parece questões fúteis.
Ao Estado cabe cuidar das pessoas, dar-lhes alimentação e acesso à saúde.
O voucher de R$ 200 por mês para os trabalhadores informais
é pouco para enfrentar os próximos dois a três meses, mas o principal, agora, é
fazê-lo chegar ao destinatário.
Para isso, o Cadastro Único, que reúne praticamente 30
milhões de famílias, é o ponto de partida. O governo vai utilizar casas lotéricas
e caixas eletrônicos para dar acesso a esses recursos.
Diante da inevitabilidade de aumento do desemprego, o
governo edita medida provisória para regulamentar a suspensão temporária do
contrato de trabalho (“lay off”). O empregado receberá pelo seguro-desemprego,
e a MP deverá retirar a intermediação dos sindicatos para que haja uma
negociação direta entre patrões e empregados. Lá na frente, quando a situação
se normalizar, a lei determina que o trabalhador volte ao seu emprego.
O governo federal diferiu por 180 dias o recebimento do
Simples, mas poucos Estados e municípios estão acompanhando essa medida,
adiando também o pagamento dos tributos estaduais e municipais do sistema.
Até agora somente a prefeitura de Belo Horizonte e o Estado
de Alagoas aderiram. Os demais estão exigindo contrapartidas do governo
federal, segundo alta fonte da área econômica. Essa mesma fonte diz: “Estamos
fazendo o que estamos vendo. O que vamos ver mais adiante, faremos também”.
Outro passo dado pela área econômica refere-se ao capital de
giro das empresas, mas sabe-se bem que o sistema financeiro doméstico não gosta
de operar com pequenas e médias empresas. Eles emprestam, na melhor das
hipóteses, para as maiores do grupo das pequenas.
Essa vai ser a terceira área de atuação do governo, disse
uma outra fonte, sem especificar exatamente em que direção. Se, por exemplo, se
usaria dos bancos públicos federais, como o BNDES, para prover essas empresas
de capital de giro.
Estamos em guerra e não é hora de seguir dogmas nem de
politizar o coronavírus. É hora, sim, de tentar minimizar o que já é, por si,
uma catástrofe social e econômica.
*Claudia Safatle é diretora adjunta de Redação
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