O baile bizarro de máscaras foi revelador. Bolsonaro testou
negativo para presidente. A contraprova foi o panelaço da classe média contra
ele.
Ele dançou para uma plateia planetária no seu baile de
máscaras. A pantomima encenada na entrevista coletiva rodou o mundo e ficará
para a História. O chefe da nação expôs de maneira incontestável seu despreparo
e sua ignorância, sua falta de liderança e de senhoridade. Com um figurino
coletivo que, esse sim, sugere suprema histeria, o desfile dos mascarados
revelou que Bolsonaro testou negativo para presidente. A contraprova foi o
panelaço da classe média.
A máscara branca que Bolsonaro manuseava, sem saber onde
estavam o nariz, as orelhas, a boca e os olhos, diante de câmeras de televisão,
é apenas detalhe alegórico de um atabalhoado que parecia imitar o humorista
Marcelo Adnet. Lembrei-me dos exames, no consultório do neurologista, em que
fechamos os olhos e levamos o dedo ao nariz, para testar coordenação motora,
equilíbrio e saúde mental. Mais uma vez, Bolsonaro mentiu, culpou a imprensa e
ensinou tudo errado ao povo brasileiro. Mas o povo não é bobo.
Não sei quem teve a brilhante ideia de tentar passar
seriedade e calma ao Brasil com aqueles 10 homens brancos mascarados de terno.
Isso é esquete de comédia de terror. Se acreditarmos na OMS e no Ministério da
Saúde, só os infectados, os imunocomprometidos, os suspeitos graves e os
profissionais de saúde devem usar máscaras para não arriscar contaminação.
Bolsonaro mirou sua arminha no próprio pé. E acertou! Virou pato manco.
Nenhum outro presidente de nenhuma outra nação teve ideia
tão surreal. O baile sentado de máscaras foi a tradução do coronavírus dos
trópicos com um incompetente no poder. Acabou o carnaval, Bolsonaro. Não tem
mais futebol, samba nem selfie com seguidores. Metrôs lotados são um crime
contra a população e não um lugar para fazer média política. Quem quer proteger
a família brasileira não endossa manifestações ao ar livre. Bolsonaro não está
nem aí para a ciência e a verdade. Nunca esteve. Anunciou dois dias de
“festinha” de seu aniversário e da mulher.
Deveria ter palavras para as famílias dos que já morreram.
Solidariedade, empatia e compaixão. Deveria se mostrar apreensivo com a falta
de água nas populações carentes, que não têm condições de se proteger
adequadamente e lavar as mãos. Muitos estão há 15 dias sem uma gota d’água.
Essa é nossa maior tragédia no combate à pandemia. E o presidente afirma que o
Brasil está “ganhando de goleada” do coronavírus? Quando poderemos pedir
responsabilidade aos milhões de pobres sem nos sentirmos hipócritas?
Um mascarado improvável surgiu na coletiva. O ministro da
Saúde Luiz Henrique Mandetta. Até então nos encantava por sua articulação,
clareza, competência, firmeza e cooperação com os outros poderes. Mas se rendeu
ao puxa-saquismo explícito a Bolsonaro. Mandetta foi claramente enquadrado pelo
presidente, enciumado de seu poder de liderança e mobilização. Afaste de si
essa máscara, ministro. Não caia na esparrela política. Assuma seu protagonismo
técnico. Ignore as intrigas palacianas. Continue a defender “a galhardia” da
China, combata o preconceito e a xenofobia. O oposto da família Bolsonaro.
O panelaço ensurdecedor me emocionou. Que prova de
vitalidade e autodeterminação! Na Itália, as óperas nas varandas expressam
solidariedade. Música e canto aliviam o isolamento em um país com uma escalada
trágica de mortos por coronavírus. No Brasil, as janelas exibem panelas e
gritos vindos da alma, contra o presidente. Dançou, Bolsonaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário