segunda-feira, 30 de março de 2020

DIÁRIO DA CRISE VIII

Do Blog do Fernando Gabeira
A discussão sobre o tipo de isolamento, horizontal ou vertical, poderia ser superada brevemente.
Não há essa contradição tão forte entre vida e economia. Sabemos que o isolamento total não pode durar muito tempo. Mas acreditamos também que voltar as atividades no momento em que a epidemia vai entrar no auge seria um suicídio em massa.
Uma experiência dos velhos debates na sociedade me inspira. É o caso do aborto. Há quem seja contra o aborto e também os que o defendem.
As vezes os dois são tomados pela paixão e não conseguem encontrar um ponto de convergência entre eles. Esse ponto existe: a informação maciça e de qualidade pode evitar a gravidez indesejada.
Ambos os lados estariam contemplados por essa redução radical.
Como transportar esse jogo de ganha-ganha para o debate de hoje? A resposta, afirmei isso na tevê na primeira intervenção, foi dada pela Coréia do Sul: testar, testar, testar.
Os testes em massa poderiam simultaneamente atender aos que pedem volta ao trabalho e também aqueles que querem evitar uma carnificina.
Existem muitas dificuldades para produzir o teste. Mas se chegamos a essa conclusão que cheguei a concentração de recursos e esforços poderia resultar num salto de qualidade. Isto implicaria em comprar todo o teste possível e fortalecer a Fiocruz para que ela produza em maior quantidade.
O mesmo esforço deveria ser feito na produção e compra de respiradores. Leio no Nytimes que nos Estados Unidos, há alguns anos, havia um projeto de produção maciça mas ele acabou dando em nada por causa das prioridades das grandes empresas.
É hora de refletir: é avançado um país que tem dois carros por pessoa e não tem respiradores para socorrer a população em caso de epidemia de doenças respiratórias?
Irá mudar muita coisa, depois da epidemia. No Brasil ainda temos essa questão do saneamento básico, uma necessidade gritante que, de uma certa forma, ignoramos ao longo dos anos.
Viver já é perigoso mas a cegueira pode transformar em inviável a vida no planeta. Num certo sentido, afirmo no meu artigo do Globo de amanhã, a humanidade é um imenso grupo de risco e pode se tornar uma espécie em extinção.
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