A Bolsa de Nova York teve a maior queda desde a crise de
2008, a de São Paulo suspendeu o pregão, fechou com um tombo de 12% e o dólar
bateu em R$ 4,73. Diante desse quadro, o doutor Paulo Guedes disse que “estamos
absolutamente tranquilos”, pois sua equipe “é serena, experiente”. Nada contra,
salvo os precedentes.
Em 2008, Lula disse que a grande recessão americana chegaria
ao Brasil como uma “marola”. Deu no que deu. Em 1979 e 1980, diante de uma alta
do petróleo e dos juros americanos, o governo brasileiro (e o FMI) garantiam que
a dívida externa seria administrável. O país quebrou, entrando na sua década
perdida. Em 1973, quando o mundo sofreu o primeiro choque do petróleo, o Brasil
era apresentado com uma “ilha de tranquilidade”.
Paulo Guedes deve ter seus motivos para estar tranquilo,
mesmo que seja um dos poucos ministros da Economia com essa serenidade. Seus
antecessores acreditaram que crises podiam ser mitigadas com otimismo. Como
ensinou Tim Geithner, o ex-diretor do Federal Reserve Bank de Nova York e
ex-secretário do Tesouro americano, que toureou a crise de 2008, “esperança não
é estratégia”.
Ninguém explicou a origem do pânico financeiro das últimas
semanas. Atribuí-lo ao coronavírus é pouco. Se for só isso, a economia mundial
tomará um tombo em 2020. Em 1973, quando os países exportadores de petróleo
começaram a aumentar o preço do barril, poucos se deram conta do tamanho da
encrenca. Seis anos depois, quando o aiatolá Khomeini derrubou o Xá do Irã e
provocou a segunda alta do petróleo, muita gente achava que ele era um velhinho
bondoso de barbas brancas. Em 2008, quando o economista Nouriel Roubini previa
a crise bancária, chamavam-no de “Doutor Fim do Mundo”. Ele virou profeta e, na
segunda-feira (9), diante da queda do preço do petróleo somada ao coronavírus,
tuitou: “recessão e crise à vista”.
A serenidade de Guedes inquieta quando ele diz que “a
democracia brasileira vai reagir, transformando essa crise em avanço das
reformas”. Uma coisa tem muito pouco a ver com a outra. Viu-se isso com o
pibinho que se seguiu à reforma da Previdência. Essa e todas as propostas de
Guedes podem melhorar a situação da economia, mas são mudanças de médio prazo.
Democracia não reage, apenas existe ou deixa de existir. Misturando-se banana
com laranja consegue-se apenas travestir um mau cenário econômico,
fantasiando-o como questão política.
A crise de 2008 deveu muito a um clima de festa da banca,
mas quando um sujeito é responsável pela administração de uma economia deve
conhecer seus limites. Em março daquele ano, quando a banca não falava em
crise, o presidente George Bush submeteu ao seu secretário do Tesouro, Henry
Paulson, um discurso no qual diria que o governo não salvaria empresas. Paulson
surpreendeu-o pedindo-lhe que cortasse a afirmação. Em setembro o mundo caiu.
Ele conhecia o mercado e evitou que o presidente dissesse algo que poderia
obrigá-lo a desmentir-se.
O Fed de Nova York tem hoje uma caçadora de encrencas
potenciais no comportamento e nas certezas dos banqueiros. Ela se chama
Margaret McConnell e ensina: “Nós gastamos tempo procurando pelo risco
sistêmico, mas é ele quem tende a nos achar.”
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