O presidente da República parece rumar a uma espécie de
quarentena voluntária. Desde que assumiu o cargo, isolou-se da sabedoria, da
liderança, da ciência, do bom senso e da melhor prática política.
A atitude
estúpida de ir ao encontro de sua diminuta seita de extremistas neste
domingo (15), em Brasília, indica que o país não contará com o chefe de Estado
na condução da resposta à maior urgência humanitária em décadas.
Pelo contrário, Jair Bolsonaro ameaça tornar-se obstáculo à
extraordinária coordenação de esforços e recursos necessária para mitigar o
impacto que o espalhamento da Covid-19 exercerá no sistema de saúde, no
bem-estar de dezenas de milhões de brasileiros e na economia, duramente
atingida.
O melhor, pois, é deixar o ocupante intelectual e
politicamente isolado do Planalto falando e fazendo asneiras sozinho, enquanto
os capacitados se incumbem da tarefa monumental.
Os ministros ainda lúcidos, como
o da Saúde e o
da Economia —cujas declarações à Folha nesta segunda (16) repõem a
esperança na racionalidade e no somatório de esforços—, podem articular-se
diretamente com os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal
Federal, bem como com os governadores dos estados, onde fica o terreno dessa
batalha.
O presidente não faria mal, nesse contexto, em delegar a uma
autoridade nacional o enfrentamento da epidemia e de suas consequências
imediatas, a exemplo do que ocorreu durante o racionamento de energia elétrica
em 2001.
A despeito do modelo que se adote, o fluxo de informações e
decisões necessita ser fluido e ancorado em evidências. Planos de contingência
para hipóteses extremas, como o bloqueio de circulação em regiões com vasto
contingente populacional, precisam estar delineados em questão de poucos dias.
Com enorme parcela dos trabalhadores na informalidade e
elevado contingente de desempregados, milhões de famílias poderão ter queda
vertiginosa em seu poder de compra. Será preciso garantir a alimentação desses
brasileiros.
Os mais vulneráveis à debacle, seja na saúde, seja na renda,
exigem socorro prioritário. A asfixia econômica também requererá ações para que
o mergulho passageiro não deflagre uma onda de falências.
Diante da enormidade do desafio, cujo sucesso será avaliado
em vidas e empregos poupados, seria desperdício de tempo preocupar-se com as bizarrices
de Bolsonaro.
Que permaneça em seu confinamento de fato até que a crise
esteja superada. Todos terão a ganhar.
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