Jair Messias Bolsonaro tornou-se um bobo da corte, com uma
diferença importante: bobos da corte costumavam dizer verdades.
Os sinais de que o presidente da República deixou de ser
levado a sério são numerosos e inequívocos. Prefeitos e governadores, alguns
dos quais eleitos na mesma onda conservadora que impulsionou Bolsonaro, fazem
exatamente o contrário do que ele recomenda —e não hesitam em explicitar isso.
Até ministros de Estado, que foram por ele escolhidos e são
demissíveis "ad nutum", se articulam para fazer o by-pass do chefe.
Além de Mandetta,
Moro e Guedes já disseram, ainda que tentando esboçar alguma
diplomacia, que apoiam as medidas de isolamento social que Bolsonaro renega. Há
notícias de que o núcleo militar tenta enquadrá-lo, mas a persuasão, quando
surte efeito, é transitória. Só dura até a próxima declaração ou postagem,
quase sempre uma combinação de mentiras com delírios.
É bastante sintomático que empresas de mídia social como
Twitter e Instagram tenham decidido censurar manifestações de Bolsonaro, por
julgar que se tratam de falsidades que colocam pessoas em risco.
No Congresso o clima não é muito diferente. Parlamentares já
desistiram de esperar que Bolsonaro exerça a liderança que caberia ao
presidente num momento como este e estão cuidando de elaborar por conta própria
medidas para atenuar a crise. Se o Legislativo estivesse operando em condições
de normalidade, estaríamos possivelmente iniciando procedimentos de
impeachment.
O isolamento de Bolsonaro é internacional. Se, até uma ou
duas semanas atrás, ainda havia líderes populistas apostando no negacionismo,
como o mexicano Andrés Manuel López Obrador e o próprio Donald Trump, eles
vislumbraram o tamanho da encrenca e adotaram uma posição mais responsável.
Bolsonaro ficou praticamente sozinho.
Só não dá para rir da piada que Bolsonaro se tornou porque
ela poderá custar vidas.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando
Bem…".
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