sábado, 4 de abril de 2020

BOLSONARO VIROU O BOBO DA CORTE

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo
Jair Messias Bolsonaro tornou-se um bobo da corte, com uma diferença importante: bobos da corte costumavam dizer verdades.
Os sinais de que o presidente da República deixou de ser levado a sério são numerosos e inequívocos. Prefeitos e governadores, alguns dos quais eleitos na mesma onda conservadora que impulsionou Bolsonaro, fazem exatamente o contrário do que ele recomenda —e não hesitam em explicitar isso.
Até ministros de Estado, que foram por ele escolhidos e são demissíveis "ad nutum", se articulam para fazer o by-pass do chefe. Além de Mandetta, Moro e Guedes já disseram, ainda que tentando esboçar alguma diplomacia, que apoiam as medidas de isolamento social que Bolsonaro renega. Há notícias de que o núcleo militar tenta enquadrá-lo, mas a persuasão, quando surte efeito, é transitória. Só dura até a próxima declaração ou postagem, quase sempre uma combinação de mentiras com delírios.
É bastante sintomático que empresas de mídia social como Twitter e Instagram tenham decidido censurar manifestações de Bolsonaro, por julgar que se tratam de falsidades que colocam pessoas em risco.
No Congresso o clima não é muito diferente. Parlamentares já desistiram de esperar que Bolsonaro exerça a liderança que caberia ao presidente num momento como este e estão cuidando de elaborar por conta própria medidas para atenuar a crise. Se o Legislativo estivesse operando em condições de normalidade, estaríamos possivelmente iniciando procedimentos de impeachment.
O isolamento de Bolsonaro é internacional. Se, até uma ou duas semanas atrás, ainda havia líderes populistas apostando no negacionismo, como o mexicano Andrés Manuel López Obrador e o próprio Donald Trump, eles vislumbraram o tamanho da encrenca e adotaram uma posição mais responsável. Bolsonaro ficou praticamente sozinho.
Só não dá para rir da piada que Bolsonaro se tornou porque ela poderá custar vidas.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
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