Jair Bolsonaro confunde a administração pública com um
negócio familiar. Trata a Presidência da República como extensão da sua casa na
Barra.
No dia da posse, o capitão instalou o filho do meio no Rolls
Royce presidencial. Foi o primeiro ato de um mandato marcado pela influência
indevida do clã em assuntos de governo.
Os filhos de Bolsonaro já nomearam e demitiram ministros.
Ernesto Araújo era um diplomata inexpressivo, que nunca havia chefiado missão
no exterior. Virou chanceler por indicação de um filósofo de Facebook e do
deputado Eduardo Bolsonaro.
O general Santos Cruz é um militar respeitado, que trazia
alguma racionalidade às reuniões no Planalto. Foi derrubado da Secretaria de
Governo porque resistiu aos avanços do vereador Carlos Bolsonaro sobre as
verbas de publicidade.
Ao pedir demissão, na sexta passada, o ex-ministro Sergio
Moro acusou o presidente de tentar interferir na Polícia Federal. Desta vez, o
objetivo seria travar as investigações sobre quem financia e controla as
milícias virtuais.
A pretexto de se defender, Bolsonaro confirmou parte do
relato. Confessou ter recebido um relatório sigiloso e disse que mandou trocar
um superintendente da PF por causa das investigações do assassinato de Marielle
Franco. “A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu
chefe supremo. Cobrei muito dele isso daí”, contou, confundindo a polícia
judiciária como uma guarda presidencial.
No fim de semana, Bolsonaro apontou seus favoritos para os
cargos que vagaram. Para o Ministério da Justiça, convidou Jorge Oliveira,
atual secretário-geral da Presidência. Para a direção da PF, indicou Alexandre
Ramagem, hoje no comando da Abin.
Oliveira é um ilustre desconhecido no meio jurídico. Seu
currículo ostenta passagens como major da PM e assessor parlamentar. Ele ganhou
espaço no governo porque é filho de um velho amigo do presidente. No ano
passado, foi padrinho de casamento do Zero Três. Ramagem também deve o
prestígio às ligações pessoais com o clã. Chefiou os seguranças de Jair na
campanha e virou amigo de infância do Zero Dois.
Ontem, diante das reações negativas, Bolsonaro deu sinais
que pode rever as escolhas. Melhor assim, mas nada indica que ele deixará de
usar o cargo para proteger os filhos. O presidente está mais empenhado na
blindagem da prole do que no combate ao coronavírus. Com o andar das
investigações no Supremo, seus temores só tendem a aumentar.
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