A confusão no mundo institucional continua. Bolsonaro hoje
na porta do Palácio da Alvorada disse: acabou, porra.
Era um recado para o STF. Achei interessante esta frase.
Outro dia, conversei com o embaixador Marcos Azambuja e o tema da nossa
conversa era Esperando Godot, a Tempestade Perfeita.
Lembro-me agora que um dos personagens da peça de Samuel
Becktet, Esperando Godot, diz algo parecido:
– Acabou, acabamos.
Quando um presidente se manifesta assim sobre a crise
institucional, a sensação que temos é de que se esgotaram todos os caminhos
políticos e diplomáticos e o próprio vocabulário do diálogo.
É isso, o presidente associa liberdade à hemorroida. O pior
é o Ministro da Educação que confunde uma simples diligência policial com a
terrível Noite dos Cristais que impulsionou o massacre dos judeus.
Para Weintraub a apreensão do telefone da militante Sara
Winter tem o mesmo significado da destruição das lojas dos judeus 1938 e a
prisão de centenas de pessoas pelas milícias hitleristas.
Houve protestos das entidades judaicas aqui e nos Estados
Unidos contra a imagem usada por Weintraub. A própria embaixada de Israel
lançou uma nota afirmando que o holocausto dos judeus não deveria ser usado na
luta política e ideológica.
Essa banalização de uma tragédia humana não fica bem para
quem está se defendendo num inquérito sobre fake news. O próprio conteúdo de
uma fake news muitas vezes é a distorção grotesca de um fato histórico.
Mas o exemplo é interessante para mostrar como muitas vezes
as pessoas não querem apenas contar mentiras, mas vêem o mundo com uma lente
tão distorcida pela ideologia que perdem a noção da realidade.
Weintraub já tem um pobre domínio do idioma e agora mostra
uma profunda lacuna em seus conhecimentos históricos.
Isso não teria a mínima importância se não fosse o Ministro
da Educação. Todos sabemos, isso foi dito até na campanha presidencial, como a
educação é essencial para impulsionar o crescimento do país.
Nessa crise profunda, a própria educação anda meio
esquecida, uma vez que foi forçada a entrar prematuramente no universo virtual.
Eduardo Bolsonaro disse que espera uma ruptura nas
instituiõçes. Já não discute se haverá, mas quando virá, uma vez que seu pai
terá de tomar decisão enérgica.
Trabalho também com essa hipótese e amanhã, sexta, publico
um artigo no Estadão com algumas anotações sobre a resistência necessária ao
golpe.
Se tiverem disposição, o artigo estará disponível pela
manhã.
Hoje na televisão alguém perguntava se um antigo jornalista
poderia imaginar, a esta altura da vida, a possibilidade de um golpe militar.
Não estava no debate, mas se estivesse responderia: não
esperava, mas sou aberto às surpresas. O ideal é considerar rapidamente as
novas situações, por mais absurdas que pareçam.
O próprio coronavírus já trouxe uma situação que mudou de repente a nossa vida. Está tudo em mutação.
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