As pretensões orwellianas de Ernesto Araújo são inversamente
proporcionais a sua estatura como chanceler. Catapultado de carreira
diplomática medíocre para a chefia do Itamaraty, ali se esmera a cada dia para
provar-se paragão da pequenez e da subserviência.
Torna-se difícil discernir se o ministro ataca a imprensa
para dar vazão às frustrações de delírios de grandeza ou se o faz para adular o
presidente da República. Certo é que ambos se irmanam no obscurantismo que hoje
rebaixa a imagem do país no exterior.
O Pequeno Irmão Araújo suspende
agora o envio de notícias de veículos nacionais a representações
brasileiras. Amplia-se a canhestra tentativa de privar diplomatas da cobertura
inquiridora sobre o governo iniciada em outubro, quando reportagens desta Folha
foram excluídas do boletim (“clipping”).
O chancelar busca emular, com palavras lustrosas e atos vis,
a paranoia agressiva do chefe —como tudo que tenta, em vão. Bem mais potente
que suas intermináveis postagens bisonhas em redes sociais, o megafone
presidencial de Jair Bolsonaro se volta contra jornalistas com mais eficácia e
dano.
Com regularidade, o mandatário açula a claque na saída do
Palácio da Alvorada contra profissionais de imprensa, com qualificativos como
“lixo” e “canalhas”. Alguns desmiolados reviraram
lixeiras com restos de refeições na sala usada por jornalistas, em
busca sabe-se lá de quê, e só produziram provas da própria abjeção.
Alguma surpresa com o fato de o ódio cevado por
Bolsonaro escalar
para agressões físicas, como as sofridas por dois repórteres-fotográficos
em manifestação governista? Um deles foi chamado pelo presidente para uma
conversa, apenas para ouvir novos impropérios contra a autonomia jornalística.
Bolsonaro almeja o mesmo que todo governante: anuência,
concordância, elogios. A diferença do presidente fraco e inseguro em relação a antecessores
está no recurso a expedientes autoritários de intimidação e chantagem velada.
Em reunião virtual com empresários, na quinta-feira (14),
voltou a incitá-los a não anunciar em órgãos que o criticam. Bolsonaro quer
asfixiar o mensageiro.
As instituições têm sabido frear os arroubos cesaristas do presidente. Até aqui, o silêncio que tenta impor à opinião pública só serviu para encorajar as vozes independentes —e estimular, no porão do Itamaraty, as cabrioladas de Araújo.
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