Articulação política é o nome pomposo dado ao ministério, ou
à secretaria, que faz a divisão de poder entre os aliados do presidente da
República, no que aqui se convencionou chamar de presidencialismo de coalizão.
Se os nomes das cadeiras federais deixassem de lado
eufemismos, deveria chamar-se Ministério, ou Secretaria, da Repartição de
Cargos e Verbas Orçamentárias. Sua missão em todos os casos é evitar que o
presidente veja formar contra ele uma maioria parlamentar.
A opinião pública não chega a ter posição, digamos, de
princípio sobre o assunto. A complacência da opinião pública (não confundir com
sociedade ou eleitorado) diante da articulação política depende dos objetivos
do governo.
Se estão alinhados a essa opinião pública, o viés pejorativo
ou morre ou vegeta ou é repaginado. Como aconteceu nos meses anteriores à
reforma da previdência, quando a opinião pública era só lamentos por o
presidente não ter uma maioria. E, por isso, colocar em risco a reforma.
A reforma da previdência social nunca esteve realmente em
risco, mas isso é outro assunto. O fato: aqueles meses foram ricos em demandas
por mais articulação política. Para que a ausência de uma base parlamentar não
ameaçasse a agenda do ministro da Economia.
Agora, quando Jair Bolsonaro precisa formar alguma base
parlamentar para sobreviver no cargo, e a “nova política” é bananeira que já
deu cacho, quem deseja remover o presidente da cadeira desenterra antigas
terminologias, sempre úteis em ocasiões assim.
Voltam as acusações de fisiologismo, de toma lá, dá cá.
Antigos prontuários policiais que não deram em nada são desenterrados com ar de
escândalo.
E pode-se ter certeza: se houver uma substituição
presidencial, a mesma opinião pública que hoje se escandaliza amanhã apoiará a
divisão de poder. Talvez em nome das reformas, ou de uma interessada união
nacional.
Tudo isso é previsível, e chega a ser entediante, mas no
Groundhog Day (filme traduzido para o Brasil como Feitiço do Tempo; deveria ser
Dia da Marmota) da política nacional não há como escapar das repetições. Não
inventaram ainda criatividade que dê conta.
Bolsonaro precisa de maioria parlamentar para enfrentar
eventuais pedidos de impeachment, se o presidente da Câmara finalmente ceder às
pressões. Ou para barrar a abertura de processos criminais contra ele no
Supremo Tribunal Federal.
Só há um caminho para isso. Distribuir poder.
Fernando Collor fez assim com o chamado ministério ético.
Deu errado. Itamar Franco abdicou da caneta em favor de Fernando Henrique
Cardoso. Deu certo. FHC cedeu ao PMDB quando flagraram a compra de votos para a
reeleição. Deu certo.
Lula fez assim quando acossado pelas acusações inauguradas
por Roberto Jefferson. Deu certo. Dilma tentou a manobra para escapar do
impeachment. Deu errado.
Se vai dar certo ou errado com o atual ocupante da cadeira
presidencial, só acompanhando em tempo real. Mas, cuidado: base parlamentar é
um troço perigoso. Mais ou menos como o tempo (meteorológico) em certas regiões
extremas do planeta. Muda de repente.
Vai depender dos fatos, sempre eles. Para monitorá-los, de
vez em quando é útil colocar a política no mudo. Em vez de concentrar-se no que
os políticos dizem, prestar atenção no que fazem. Por enquanto, não estão
querendo um outro governo.
Preferem entrar neste mesmo.
*Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação
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