Juro que a última coisa que quero são as hemorroidas do
Bolsonaro. O que me impressionou no incrível vídeo da reunião ministerial não
foram tanto os palavrões nem as posições antirrepublicanas, que já sabíamos que
viriam, mas o completo despreparo das autoridades ali presentes.
A desinteligência começa na própria ideia de gravar o vídeo.
Desde Richard Nixon, nenhum político com mais de dois neurônios manda
imortalizar situações que revelem a intimidade do poder, a menos que esteja
obrigado por lei. No caso de reuniões de gabinete, não existe essa obrigação.
Mesmo quando os participantes não confessam nenhum crime, acabam mostrando as
entranhas dos processos decisórios, que nunca são bonitas de ver.
No caso específico, porém, há, se não confissões, indícios
abundantes de crimes de responsabilidade e até de delitos penais ordinários.
Depende só de Rodrigo Maia e de Augusto Aras o início de processos que podem
levar à destituição do presidente.
O que realmente preocupa é o alheamento dos hierarcas. O
Brasil atravessa uma crise sanitária sem precedentes e que deixará um rastro de
destruição econômica raramente vista. As autoridades, porém, não falam nada de
aproveitável sobre economia e mal mencionam a saúde. Estão mais preocupadas em
adular o chefe e antagonizar adversários políticos. Parecem viver numa
realidade paralela na qual só o que importa é a escatologia vascular do
presidente.
Se esse é o resultado da democracia, precisamos rever alguns
conceitos. Exigir que candidatos a presidente sejam aprovados no Enem e no
psicotécnico talvez seja excessivo, mas acho que faz sentido reforçar um
desenho institucional no qual certas decisões especialmente sensíveis tenham de
passar por órgãos técnicos mais difíceis de aparelhar. Em tese, as agências
funcionam um pouco com essa filosofia.
Precisamos dar um jeito de não ficar na mão de gente desse quilate.
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