Jair Bolsonaro é um homem com pouco conhecimento das coisas.
Na quinta-feira (23), depois de voltinhas de motocicleta pelos jardins do
Alvorada e de um colóquio, sem máscara, com funcionários da limpeza, o
presidente infectado proseou com apoiadores que o pajeiam às portas do palácio:
“Não tem como evitar morte no tocante a isso [Covid]. No Brasil ninguém morreu,
que eu tenha conhecimento, por falta de atendimento médico. Todos os recursos o
governo repassou para estados e municípios”.
Cenas excruciantes de usuários do SUS na fila por uma vaga
nas unidades de saúde em estados que atingiram ou estão próximos do colapso do
sistema público tornaram-se perversamente banais. Morre-se à espera, embora o
presidente da Replúbica afirme não saber.
Morre-se também porque hospitais lotados e alta ocupação de
UTIs fazem com que a rede pública priorize o atendimento de quadros graves,
deixando desassistidos casos menos severos que tendem a se complicar. Não à
toa, esse é um dos fatores que levam a taxa de cura nas instituições privadas a
ser maior que nas públicas, como revelado pela Folha. Em média, 51% dos doentes
do sistema privado sobrevivem. No SUS, 34%.
Não deixa de suscitar preocupação o fato de Bolsonaro também
desconhecer os números de sua (ruinosa) gestão no combate à pandemia. O
Ministério da Saúde gastou apenas 29% da verba emergencial destinada ao
controle do coronavírus até junho. Segundo o TCU, dos R$ 38,9 bilhões
destinados às ações governamentais, apenas R$ 11,4 bilhões saíram dos cofres,
quando o país já contabilizava 55 mil mortos.
Para os estados, o ministério repassou apenas 39% do dinheiro anunciado –e 36% para os municípios. O tribunal determinou que o governo apresente explicações sobre a baixa execução e sua estratégia de gastos e repasses. O Conselho Nacional de Saúde afirma que os desembolsos aceleraram em julho. Mas os valores ainda não chegam à metade do previsto.
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