Hoje, 25 de julho que se comemora o Dia Nacional do Escritor, fez-me lembrar de uma história da escritora cearense, Rachel de Queiroz, relatada em sua autobiografia Tantos Anos, escrita por Rachel e sua irmã caçula, Maria Luiza de Queiroz, em 1998.
Rachel de Queiroz, a pioneira cearense – foi a primeira mulher a entrar
na Academia Brasileira de Letras, 1977 – conhecida pelas belas histórias
contadas em suas obras, o carinho que tinha pelas palavras, seja nas crônicas,
nas peças de teatro ou nos romances, ela era uma mulher à frente do seu tempo.
Até na política Rachel de Queiroz enveredou e teve uma vida intensa.
A consagrada carreira de escritora e jornalista, parte dos brasileiros
já conhece, mas, na política é desconhecida pela maioria da população
brasileira. Rachel se tornou membro do Partido Comunista ao lado de amigos de
sua geração, uma turma politizada e ‘comunizada”, como relatou ela na
autobiografia Tantos Anos, de 1998. Foi presa duas vezes.
Em 1931, após passar dois meses no Rio de Janeiro – tinha ido receber o
Prêmio Graça Aranha, dado a O Quinze – Rachel volta ao Ceará, com credenciais
do Partido Comunista, já politizada e com a missão de promover e reorganizar o
Bloco Operário e Camponês, movimento político o qual ela tinha participado.
Rachel passou a fazer parte do Partido Comunista, mesmo sem ter feito
uma ficha, assinado alguma ata. Aliás, não se podia deixar nenhum rastro de
papéis, livros ou qualquer tipo de documento, a polícia era brutal e se pegasse
algum vestígio, levava todos para a cadeia: às pessoas e os papéis. Com a
chegada de Getúlio Vargas ao Rio, a polícia ficou mais feroz.
Em 1937, com a decretação do Estado Novo de Getúlio Vargas, os livros
de Rachel de Queiroz foram proibidos e, num fato marcante, várias de suas obras
acabaram queimadas em praça pública em Salvador (BA), junto a livros de Jorge
Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, todos classificados de
subversivos.
O desligamento do Partido Comunista aconteceu após ela ver censurado
pelo próprio Partido o romance João Miguel. No romance, João
Miguel, ‘campesino’ bêbado, matava outro ‘campesino’. O aviso: só
permitiria a publicação da obra, se Rachel fizesse as modificações apontadas
pelo presidente do Partido Comunista. Segundo o Partido, a trama era carregada
de preconceitos contra a classe operária.
Jamais se curvou as imposições feitas a sua obra, Rachel de Queiroz não
aceitou as tais modificações exigidas pelo Partido Comunista, pegou o original
que tinha datilografado e saiu em disparada, como relatado por ela no capítulo
O Rompimento, da autobiografia Tantos Anos.
Em sua obra Caminho de Pedras (1937), Rachel trata desse momento
político que viveu no Partido Comunista, porque fazer política na década de 20,
ser comunista era muito perigoso. A ideia de comunismo era distorcida e alguém
que ousasse se apresentar como comunista pagaria um preço alto, até com a
própria vida.
Rachel de Queiroz faleceu dormindo em sua rede, em sua casa no Rio de Janeiro, em 4 de novembro de 2003.
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