DIÁRIO DA CRISE CXLV
Saiu a vacina russa, anunciada por Putin com grande pompa. É
um pouco como se o Sputnik estivesse fazendo seu primeiro voo à lua.
Só que essa corrida é muito mais séria. Vejo esse anúncio
russo com cautela e baseio-me na entrevista de Ken Frazier, dirigente da Merk,
a maior produtora de vacinas do mundo.
Na sua entrevista à revista da Harvard Business School, ele
lembrou que a vacina mais rápida colocada em circulacão, a da caxumba, levou
quatro anos. Também da Merk, a vacina contra ebola tomou cinco anos e meio e só
agora está para ser aprovada na Europa.
A lista é longa:a vacina contra tuberculose levou 13 anos,
rotavirus 14 anos e catapora 28 anos.
Frazier diz que no caso do corona nem entendemos ainda o
vírus em si, muito menos como atua no sistema imunólogico.
Pelo que li, os russos injetam com a vacina um vírus
neutralizado, não replicante, e esperam que o organismo produza os anticorpos
contra ele.
Como os russos, há ainda 159 programas de pesquisa de
vacina. O temor é que ansiedade por encontrar logo uma saída, voltar à vida
normal, possa produzir desastres.
As dificuldades não estão apenas na descoberta da vacina mas
também na sua distribuição. Como chegar aos mais pobres? Como produzir frascos
para conter bilhões de doses.
Segundo Frazier um material especial para a produção dos
frascos, chamado borosilicate tubing está esgotado nos fornecedores.
Muito possivelmente haverá dez vacinas por frasco para
superar o problema da escassez. Será preciso de latex para fazer as rolhas e
depósitos refrigerados.
Tudo isso implica numa gigantesca logística.
Os políticos querem pressa, apresentar soluções dentro do
prazo de seus mandatos. Mas nem sempre a pressa é a melhor saída para esse tipo
de problema.
Finalmente, algo importante para os idosos, é o fato de que
vacinas com vírus desativados talvez não funcionam bem neles.
O caminho ainda é longo. Vamos ter que confiar em testes,
aumentar a precaução e soube até para viajar agora estão fazendo umas roupas
especiais. Imagino que sejam esses macacões que cubram o que vestimos por
baixo.
Por enquanto, vamos ver o jogo dos países querendo chegar na
frente, nessa olimpíada que meu querido embaixador Marcos Azambuja chamou de
olimpíada do bem. Desde que se respeitem as regras de segurança, é claro.
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