Uma após outra, as pesquisas de opinião vão mostrando que a
popularidade do presidente Jair Bolsonaro cresce à medida que os efeitos do
auxílio emergencial para enfrentamento da pandemia da Covid-19 vão se fazendo
sentir nas classes e regiões menos favorecidas. E a boca fechada do presidente,
que agora age em silêncio, também ajuda na melhoria de sua avaliação, evitando
aquela sensação de vergonha alheia em seus apoiadores em outros estratos da
população.
Ao mesmo tempo em que essa é uma boa notícia para o governo,
o coloca em uma sinuca de bico, pois a continuidade desse auxílio de R$ 600 é
esperada pelos que o recebem, mas também pela maioria da sociedade, como
demonstra a pesquisa XP/Ipespe divulgada ontem que mostra que 70% da população
são favoráveis à continuidade do programa, inclusive entre os que não têm
acesso a ele.
Assim como o Datafolha já havia constatado, também a
pesquisa XP/Ipesp confirma uma melhoria na avaliação do presidente, tendência
que já havia sido detectada na pesquisa de julho.
O Ipesp registra os maiores níveis de aprovação ao
presidente desde março de 2019, com os que consideram o governo ótimo ou bom
saltando sete pontos percentuais, de 30% para 37%, enquanto os que consideram o
governo ruim ou péssimo caíram de 45% para 37%, o menor índice desde agosto de
2019.
O movimento positivo para Bolsonaro é seguido por outros
indicadores, segundo o Ipespe, como o aumento expressivo dos que têm
expectativa positiva para o restante do mandato, que eram 33% e ganharam mais
quatro pontos percentuais, reforçados pela queda dos pessimistas de sete pontos
percentuais.
A percepção do eleitorado de que a economia está no caminho
certo também aumentou, de 33% para 38%, o que pode dar ao ministro Paulo Guedes
argumentos para confrontar-se com os “fura-tetos”, como ele chama seus colegas
de ministério que querem aumentar os gastos públicos. Mas, como no Brasil a
maioria não leva em conta o binômio causa-efeito, os mesmos que consideram que
a economia está certa querem manter o auxílio emergencial que quebra as contas
públicas.
Ajudou também a melhorar a avaliação do presidente o alívio
da maior parte da população em relação à pandemia, (52%) que considera que o
pior já passou, caindo o número dos que dizem estar com muito medo do surto
(38% para 33%).
Novos dados da pesquisa Datafolha mostram um aumento da
reprovação do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), consequência
natural do crescimento da popularidade de Bolsonaro. Congresso e Supremo sempre
foram obstáculos aos avanços dele contra a democracia e os direitos civis, e
durante um tempo o puseram nas cordas.
Quando teimou em confrontar os demais poderes, recebeu
muitas críticas e foi derrotado nas duas Casas. STF e Congresso são
instituições, para os seguidores de Bolsonaro, prejudiciais e que o impedem de
governar. Como o presidente virou o rei do Nordeste com o auxílio emergencial,
é natural que seus inimigos sejam vistos com mais ressalva pelo eleitorado que
o apóia.
Segundo a pesquisa do Ipesp, toda melhora na avaliação do
governo vem dos estratos da população com renda familiar mensal de até 5
salários mínimos, população que concentra os que requisitaram o auxílio
emergencial, benefício de R$ 600 pago pelo governo durante a pandemia.
Entre os mais pobres, com renda de até 2 salários mínimos, a
aprovação foi de 28% para 34% e entre os que têm renda de 2 a 5 salários
mínimos, de 32% para 44%. Bolsonaro conseguiu vender a ideia de que a culpa
pelas 100 mil mortes é dos outros, especialmente os governadores, como mostra a
pesquisa Datafolha que registra que 47% dos brasileiros consideram que o
presidente não tem culpa por sermos o segundo país com maior número absoluto de
mortes do mundo.
Com todos esses registros favoráveis, Bolsonaro está na
mesma batida da campanha presidencial, quando viajava pelo país sendo recebido
por multidões de correligionários nos aeroportos. Ontem foi a Sergipe, e os
vídeos divulgados mostram um entusiasmo popular que parece confirmar as
palavras de um dos líderes do centrão, Ciro Nogueira, que diz que Bolsonaro
está substituindo Lula no imaginário do nordestino, devido ao seu jeito de “povão”
e graças ao auxílio emergencial, do qual ele não irá abrir mão, mesmo com o
perigo de furar o teto de gastos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário