Na campanha eleitoral de 2002, Ciro Gomes desfiava promessas
inviáveis no horário eleitoral numa emissora de rádio quando um ouvinte lhe perguntou
se por acaso era candidato a presidente da Suíça. "Lá é
parlamentarista", irritou-se o orador. "É só um aviso aí pra esses
petistas furibundos. Tem que fazer as perguntas com um pouco mais de cuidado
pra largar de ser burro". Demorou alguns dias para balbuciar o
inconvincente pedido de desculpas e recitar a frase tão verdadeira quanto uma
cédula de 3 reais: "Nunca agredi ninguém em minha extensa vida
pública". Semanas depois, convidado a explicar o papel que seria
desempenhado durante a campanha pela atriz Patrícia Pillar, com quem estava
casado, resumiu: dormir com o candidato.
Ciro rima com grosseria desde a primeira aparição num
palanque. Em 1994, quando ainda se enfeitava com plumas de tucano, foi à luta
contra o partido do qual seria parceiro poucos anos mais tarde: "Os
políticos do PT são uns mijões nas calças", garantiu numa entrevista. O
cearense nascido em Pindamonhangaba, no interior paulista, muda de partido e de
discurso como quem muda de roupa. O que não muda é a alma de coronel mimado, que
transformou Ciro Gomes no maior adversário de si mesmo.
Em 2009, o então deputado federal irrompeu no plenário da
Câmara bravo com os colegas que achavam prudente usar a cota de passagens
aéreas com menos desfaçatez. "Até ontem era tudo liberado!", esbravejou.
"Então, por que mudar? É um bando de babacas!". Enfureceu-se quando
soube que viera do Ministério Público a informação de que havia financiado com
dinheiro da Câmara, tungado dos pagadores de impostos, um giro internacional da
mãe. "Ministério Público é o caralho!", caprichou. "Não tenho
medo de ninguém! Da imprensa, de deputado! Pode escrever o caralho aí!",
recomendou aos jornalistas. Foi atendido.
Em 2017, resolveu chamar para a briga o ainda juiz Sergio
Moro. "Hoje esse… esse Moro resolveu prendê um… um bloguero?",
desandou no meio de uma entrevista o campeão de bravatas e bazófias. "Ele
que mande me prendê, que eu recebo a turma dele na bala". Endereçado ao
magistrado que simbolizava a Operação Lava Jato, o tiro ricocheteou na língua
portuguesa antes de atingir, de novo, a testa do pistoleiro que faz mira só
depois do disparo. Se fosse mais gentil com o idioma, Ciro receberia à bala,
nunca "na bala", os agentes da Polícia Federal que formavam o que
chamou de turma do Moro. Se respeitasse a inteligência alheia, não diria que o
juiz federal "resolveu prendê um bloguero". Moro apenas determinara
que um blogueiro incluído entre os alvos de uma investigação prestasse
depoimento.
Em 2018, em sua terceira tentativa fracassada de alojar-se
no Planalto, reagiu a uma pergunta incômoda com um soco no autor, a ameaça de
prendê-lo e a ordem: "Vai pra casa do Romero Jucá, seu filho da
puta". Entre um bate-boca e um destampatório, foi filmado numa
rua comprando briga de pijama ou descendo de um palanque para desafiar alguém
na plateia.
No começo deste ano, para mostrar que no peito de um Ciro
Gomes também bate um coração, resolveu escancarar a dor que sentia ao pensar no
sofrimento dos moradores de rua ameaçados pela pandemia de coronavírus. Na
gravação de um vídeo, caprichou na pose de menor abandonado e tentou cair no
choro. Não apareceu uma única e escassa gota no canto de qualquer olho. Então,
Ciro escavou no semblante rugas e vincos tão artificiais que acabou inventando
o pranto convulsivo sem lágrimas.
Neste fim de agosto, Ciro teve outro chilique ao ser
confrontado com números da pandemia de coronavírus em Sobral divulgados por
este colunista. "Esse ex-jornalista, figura corrupta da imprensa
brasileira, na tentativa de defender Bolsonaro, seu padrinho criminoso,
trabalha sempre com fake news!", berrou nas redes sociais.
"Usar Sobral para atacar a mim, chega a ser patético! O idiota não sabe
que 25.624 sobralenses foram testados até as 18h de ontem".
Como fatos são insensíveis a ataques de nervos, Sobral continua
exibindo números que desmoralizam o clã que havia proibido a entrada na
cidade do vírus chinês. Neste fim de semana, as mortes por covid-19 eram 141
para cada 100 mil habitantes. O valor é quase o triplo da média nacional e o 3º
entre as cidades com mais de 100 mil habitantes no Brasil. Apenas 28 dos 5.557
municípios afetados pela pandemia no país têm registros de óbitos piores que os
registrados no feudo dos Gomes.
O chilique informa: Ciro está pronto para o quarto fiasco
como candidato à Presidência.
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