quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

RODRIGO MAIA CONIVENTE

Mariliz Pereira Jorge, Folha de S. Paulo

Rodrigo Maia acordou do coma. Só isso explica suas últimas declarações. O presidente da Câmara descobriu que Bolsonaro é “covarde”, que tem “culpa” pelas 200 mil mortes causadas pela Covid-19 e que a demora da vacina pode levar o presidente a sofrer um “processo de impeachment muito duro”.

Já sabemos disso, mas e aí? Elevar o tom enquanto limpa as gavetas para o seu sucessor tem o mesmo efeito das notas de repúdio escritas por ele às dezenas nos dois últimos anos, diante das atrocidades ditas e cometidas por Bolsonaro.

Maia continua meditando sobre uma pilha de mais de 60 pedidos de impedimento de Bolsonaro. Questionado sobre a celeridade com que um processo poderia ser julgado nos EUA contra Trump, disse que o cenário é mais “fácil” porque o americano passou dos “limites”. Pelas minhas contas, Bolsonaro ultrapassou essa barreira no primeiro ano de mandato.

Jair é culpado pelo rastro de destruição que a Covid-19 tem deixado no país e também pelas mortes que seriam evitadas se a vacinação já estivesse em andamento. Não é novidade para ninguém. Nem aqui nem na China. No começo da pandemia, a revista The Atlantic o elegeu líder mundial do “movimento negacionista do coronavírus”. Nesta quarta (13), ele foi acusado de tentar sabotar medidas de combate à crise pela Human Rights Watch.

Bolsonaro é culpado, mas não é o único. Fosse o ditador que ele pretende ser, carregaria essa cruz sozinho nos livros de história, mas essa conta é também do Congresso, de Rodrigo Maia, da oposição, que só é boa mesmo em produzir hashtags.

A única instituição que funciona no Brasil é o funk. Na falta de uma campanha de vacinação, que já deveria estar na rua, viralizou nas redes o hit Bum Bum Tam Tam, em alusão ao instituto paulista. A trilha sonora já temos. Se as instituições funcionarem, teremos vacina e o presidente impichado. É querer demais?

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