sexta-feira, 16 de abril de 2021

A REPÚBLICA DA MORTE

Carlos José Marques, ISTOÉ

O epíteto foi dado pela própria comissão da OAB que acusa o mandatário Bolsonaro de crimes contra a humanidade. Seu relatório, enviado para a recém-instalada CPI da Covid, que vai investigar no Senado o infindável rosário de decisões abomináveis desse governo, no enfrentamento à pandemia, é demolidor e serve de excelente trilha, como roteiro pormenorizado das aberrações praticadas. No parecer da Ordem dos Advogados está a sugestão de seguir não apenas com o impeachment do presidente como também com a apresentação de uma denúncia formal contra ele no Tribunal Penal Internacional. Já não era sem tempo. O capitão da verborragia pavorosa e dos atos genocidas poderia ter sido impedido logo no primeiro ano de mandato, quando iniciou a escalada de insanidades. Deixaram correr o que agora chamam de “gestão deliberadamente atentatória à saúde pública”. E o resultado está aí. Na monstruosidade de quase 400 mil óbitos por enquanto – e a caminho, somando, outros mais. Sim, o presidente fundou uma “República da Morte”, como diz a OAB. E contribui, dia a dia, para que ela avance no intento. O capitão em pessoa temeu e tremeu ao ser confrontado com o risco de, pela primeira vez, sofrer punições em virtude dos crimes. E buscou de tudo para evitar o desfecho. Até uma malfadada operação mandrake de conversa, nada republicana, com um senador foi montada. Nela, o Messias sugere e estimula pressões ao STF. Orienta medidas de sabotagem à CPI e insinua, claramente, ameaças aos parlamentares desafetos, falando em “sair na porrada” com ao menos um deles. Mal lembrou o “mito” que ameaçar também é crime. Jair Bolsonaro realiza tantos que nem dá bola. Constrange quem lhe dá na telha, na maioria das vezes com violência. Nada pior do que um bandido com poder.

Dessa vez, não teve jeito, nem encenação capaz de “fazer do limão uma limonada”, como ele desejava. A Comissão Parlamentar de Inquérito, recém-instalada e iniciando os trabalhos, será o palco do julgamento, cujo veredicto até os mais comuns mortais dariam facilmente, diante da profusão de provas. Ele é culpado, e de maneira reiterada, por crimes de genocídio. Todas as indicações, relatos, evidências e provas estão aí para mostrar. A CPI, caso levada dentro da estrita seriedade da lei e das averiguações cabíveis, promete vendavais e terremotos. O mundo combate a pandemia seriamente, com as armas e medidas possíveis. O capitão do Planalto, em uma cruzada na direção contrária, faz de tudo para sabotar os esforços nesse sentido. Involuímos para a condição da barbárie bestial, promovendo aglomerações, o não uso de máscara e de vacinas, além da adoção de drogas milagreiras, sem comprovação científica. E, especificamente, um homem, lotado na cadeira de comando do Planalto, é responsável notório por tantas bizarrices. De maneira inconsequente, Jair Bolsonaro empurrou à morte milhares de brasileiros. Não dá para esquecer ou aceitar. A perda de mandato será pouco em termos de pena! Ele terá de pagar caro pelo que fez. Na perplexidade, diante do seu desprezo à vida, chocados com tantas demonstrações de insensibilidade, famílias vítimas da tragédia querem e merecem a justiça. Bolsonaro não foi apenas capaz de envergonhar uma Nação inteira com as suas estultices. Mostrou-se alguém ainda pior, de crueldade psicopática mesmo. Somente sabujos do mandatário louvam as suas grosserias e obscenidades. A maioria está demolida e descrente diante dos barbarismos do capitão e do bolsonarismo, transformando patranhas de milicianos violentos em verdades absolutas. Agora esse caudilho quixotesco vai atrás de vingança àqueles que lhe impuseram a derrota fragorosa. Passou o recado em meio à plateia, cada dia menor, de bajuladores do cercadinho: “Amigos do STF, daqui a pouco vamos ter uma crise enorme. Não quero brigar com ninguém, mas estamos na iminência de ter um problema sério no Brasil”. A quem ele pensa meter medo com essas suas delinquências risíveis? Os poderes constituídos desse Brasil democrático já estão mais do que vacinados contra as coléricas imprecações de um mandatário que não honra a faixa recebida. O Supremo o presenteou com uma CPI. Promoveu derrotas acachapantes em seus projetos de costumes mais deletérios, como o dos decretos armamentistas. E Bolsonaro, na congênita falta de diplomacia política, arrotando valentia, diz esperar a “sinalização do povo” para agir e tocar fogo no coreto. Onde ele pensa estar? Presidente, não confunda o Brasil com mera republiqueta das bananas! O impulso autoritário do inquilino do Planalto terá (não existem mais dúvidas) um fim trágico. Para ele. Atrás das grades. O lugar que merece.

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