A performance inquisitiva e aguerrida demonstrada nos depoimentos pelos sete senadores de oposição e independentes que formam a maioria na CPI da Covid não se repetiu na reunião fechada de mais de duas horas que o grupo teve na noite de terça-feira, para acertar as convocações a serem aprovadas nesta quarta pela comissão.
Apesar de definir uma lista de mais de 70 nomes, entre eles os de duas dezenas de governadores e prefeitos, além da reconvocação de Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, o grupo deixou de fora os pedidos mais sensíveis para o governo, por falta de consenso. Assim, eles não entraram na pauta de votacões para a CPI nesta quarta.
Não serão votados os requerimentos para a quebra de sigilo bancário, fiscal e das comunicações eletrônicas do ex-secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, nem dos ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) ou do assessor internacional da presidência da República, Filipe Martins.
Muito menos os pedidos para a convocação do filho do presidente da República, Carlos Bolsonaro, ou do ministro da Economia, Paulo Guedes. São mais remotas ainda as chances de ser chamado o general da reserva Braga Neto, ex-chefe da Casa Civil e hoje no comando do Ministério da Defesa, ou a de outros chefes militares.
Embora alguns dos requerimentos sejam anteriores a outros que serão aprovados na CPI, há no grupo apelidado de G7 quem diga que “não é a hora” de provocar o governo.
Um desses senadores é Omar Aziz, presidente da CPI, que costuma descartar os pedidos sem muita explicação. Na reunião da noite de terça, a cada vez que se mencionava um requerimento mais espinhoso, ele dizia que “isso agora não”, ou apenas mudava de assunto.
Embora ninguém fale abertamente, entre os próprios parlamentares existe a suspeita de que alguns membros da CPI investigados pelo Ministério Público em outras ações temem represálias por parte da Procuradoria-Geral da República caso avancem demais contra Bolsonaro. Aziz, Renan Calheiros e Eduardo Braga estão entre esses investigados.
A interlocutores, Aziz e outros senadores dizem que o adiamento das convocações é uma questão de estratégia, para não prejudicar outras linhas de investigação.
Apesar da contrariedade de alguns, Aziz não foi contestado, pelo temor de dividir o grupo, dando margem para que o governo aproveite o racha e forme maioria na comissão. Até agora, os sete senadores têm atuado em conjunto e ditado o rumo da CPI.
Mas nem tudo o que complica a vida de Bolsonaro foi represado.
Alguns requerimentos com potencial para complicar politicamente o governo devem passar – como convocação para depor do empresário Carlos Wizard, integrante do chamado grupo de “assessoramento paralelo” ao Palácio do Planalto que trabalhou pela adoção do tratamento com cloroquina e ivermectina.
Uma das suspeitas na CPI é a de que ele tenha financiado as viagens e despesas dos médicos convocados para as reuniões do “gabinete paralelo”.
A convocação de governadores e prefeitos, que era um pleito dos governistas, foi restrita. Foi combinado que só serão chamados aqueles que tenham sido atingidos por operações da Polícia Federal que apuram desvio de dinheiro destinado ao combate à pandemia.
Assim, ficam de fora adversários de Bolsonaro como João Dória, governador de São Paulo. E devem ser chamados aliados como o governador do Rio, Cláudio Castro, ou o do Amazonas, Wilson Lima – , além prefeitos como Toninho Colucci, de Ilha Bela (SP), que fez críticas a Doria e se insurgiu a medidas de isolamento social.
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