O primeiro-ministro britânico foi um dos pioneiros do negacionismo na pandemia. Boris Johnson defendeu que o coronavírus se espalhasse e contaminasse a população até que a imunidade de rebanho fosse atingida. Depois, ele mudou o discurso e implantou medidas para conter a doença, mas vacilou na hora de tomar decisões mais duras.
Num depoimento considerado explosivo, um ex-braço direito de Johnson disse ao Parlamento que “dezenas de milhares de pessoas morreram sem necessidade”. Dominic Cummings afirmou que, no início da pandemia, o líder britânico pensava que a Covid-19 seria amena como a gripe suína e que não era preciso barrar a entrada do vírus no país.
Johnson aplicou restrições ao funcionamento do comércio e de escolas, mas seu ex-conselheiro conta que ele rejeitou um novo lockdown em setembro. Segundo Cummings, o primeiro-ministro temia o impacto econômico da medida e teria dito que seria melhor ver “pilhas de corpos” do que adotar outro aperto.
O comportamento do governo custou vidas. O Reino Unido tem 187 mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes. A alta de casos só foi contida com vacinas e medidas restritivas. Já o Brasil ultrapassou a marca de 220 mortes por 100 mil habitantes, com uma vacinação lenta, governadores hesitantes e um presidente que joga contra o isolamento.
A pandemia deixou claro que as decisões dos governantes podem fazer estragos gigantescos. A ação deliberada, a omissão por incompetência e a escolha de políticas tresloucadas provocaram “dezenas de milhares” de óbitos “sem necessidade” em vários países do mundo. O Brasil começou a fazer esse cálculo sinistro.
A cúpula da CPI da Covid já está convencida de que o governo poderia ter evitado mortes. “Está provado que eles apostaram no tratamento precoce e na imunidade de rebanho. Por isso, não se interessaram em comprar vacina”, disse o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD), ao podcast Café da Manhã. “Não é incompetência, é proposital.”
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