A acomodação dos interesses de israelenses e palestinos é um dos maiores desafios geopolíticos da história recente, o que pode ser atestado pela duração deste conflito que parece interminável e que já custou a vida de milhares de pessoas ao longo de décadas, incluindo a de civis inocentes, muitos dos quais crianças.
A hostilidade mútua tem raízes profundas, alimentada com mais virulência desde pelo menos o fim da 2.ª Guerra por intermitentes crises de natureza territorial, religiosa, étnica e cultural, não raro associadas. No fundo, o que está em jogo, tanto para israelenses como para palestinos, é a identidade nacional, é o direito de existir como povo e como nação.
No entanto, em que pese a alta complexidade dos interesses sobre a mesa, seria razoável supor que, após sucessivas negociações ao longo de todos esses anos, um acordo de paz duradouro teria sido possível caso ambas as partes em conflito estivessem genuinamente imbuídas do desejo de pôr fim à guerra e dispostas a ceder em pontos que até aqui julgam ser inegociáveis.
O mais perto que se chegou da paz duradoura entre israelenses e palestinos foi em 13 de setembro de 1993, quando o então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, assinaram os Acordos de Oslo nos jardins da Casa Branca. O aperto de mão entre Rabin e Arafat, diante do então presidente americano, Bill Clinton, foi um inédito e auspicioso gesto de paz.
Porém, o que parecia auspicioso, a concretização da solução dos dois Estados, fracassou por não se ter conseguido eliminar aqueles obstáculos tidos como intransponíveis antes de avançar no delineamento de novas fronteiras para que os dois povos pudessem conviver em harmonia. Pressões de grupos contrários ao acordo em Israel e na Palestina selaram seu destino como sonho, no máximo uma promissora tentativa de estabelecer a paz.
O que se tem visto ao longo destes 28 anos é a erupção de conflitos, ora mais duradouros (e sangrentos), ora menos, e um clima de permanente tensão naquela porção do Oriente Médio.
O estopim para a mais recente onda de violência entre israelenses e palestinos foi uma coincidência de datas festivas para os dois povos. O Dia de Jerusalém – feriado que celebra a ocupação de Jerusalém Oriental pelos israelenses após a Guerra dos Seis Dias, em 1967 – foi celebrado na véspera da Laylat al-Qadr, tida pelos muçulmanos como a noite mais sagrada do Ramadã. As celebrações levaram ao encontro de grupos de judeus e muçulmanos pelos becos da Cidade Velha, no entorno da Mesquita de Al-Aqsa, que entraram em conflito. Além disso, a Suprema Corte de Israel julga uma ação de despejo contra famílias palestinas que vivem em um bairro árabe de Sheikh Jarrah, fora dos muros de Jerusalém, área que os judeus julgam ser historicamente sua.
Em resposta aos conflitos de rua e à ação da Justiça israelense contra as famílias palestinas, o Hamas, grupo terrorista que controla a Faixa de Gaza desde 2007, começou a lançar foguetes contra Israel. Os mais potentes, provavelmente obtidos com o apoio do Irã, atingiram Tel-Aviv. As Forças de Defesa de Israel responderam com um pesado bombardeio sobre a Faixa de Gaza e já movimentam tropas para incursões terrestres no enclave, o que deve provocar ainda mais mortes.
A comunidade internacional exortou israelenses e palestinos a declarar um cessar-fogo. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tem atuado com certa discrição para evitar a escalada do conflito para uma guerra declarada.
É imprevisível o que acontecerá nos próximos dias. O rumo dos acontecimentos é determinado pelos interesses políticos que tanto o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e os líderes do Hamas têm no conflito. Tanto um como os outros enfrentam crises domésticas e veem na luta contra o inimigo histórico um fator agregador que enseja união interna.
O que parece claro é que, após tantos anos de negociações infrutíferas, israelenses e palestinos preferem administrar o conflito a resolvê-lo, à custa da vida de muitas pessoas.
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