General da ativa, sem máscara, embora a lei mande que use, pode participar de manifestação política? O que o “nosso Exército” diz a respeito? Ficará por isso mesmo? Não será punido pelo Exército que Bolsonaro insiste em chamar de seu?
Especialista em logística militar, ex-ministro da Saúde demitido por incompetência, o general Eduardo Pazuello participou, esta manhã, no Rio, de uma manifestação político-partidária de motociclistas comandada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Chegou de máscara ao local no bairro da Tijuca. A primeira coisa que fez foi baixar a máscara, contrariando decreto do governo estadual e lei aprovada pelo Congresso em junho do ano passado. Subiu no carro de som, e discursou.
Desrespeitou o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar do Exército. Entre as transgressões previstas e sujeitas a punição no regulamento, está:
“Manifestar-se, publicamente, o militar da ativa, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária”.
Pazuello e Bolsonaro serviram juntos nos anos 1980 na Brigada de Paraquedista no Rio. Por ter planejado detonar bombas em quartéis em protesto contra o salário que recebia e que considerava baixo, Bolsonaro foi afastado do Exército. Pazuello seguiu carreira.
Os dois se reencontraram no governo que está repleto de paraquedistas – entre eles, os generais Braga Neto (ministro da Defesa), Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (chefe da Casa Civil).
Na última quarta-feira, Augusto Heleno disse à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara que militares da reserva podem participar de manifestações, mas os da ativa, não. E completou:
“Os da ativa não podem e serão devidamente punidos se aparecerem em manifestações políticas”.
O mau e o bom exemplo vêm de cima. Se Pazuello não for punido, os comandantes militares perderão a autoridade para punir sargentos e tenentes que decidam comparecer a atos políticos a favor ou contra Bolsonaro. Imagine a zorra que não será.
O general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, foi punido duas vezes à época em que era militar da ativa. Em 2015, por criticar o governo Dilma, dois anos depois, por defender um golpe militar. Quanto a Bolsonaro, só pode ser punido nas urnas.
Lei é lei para Bolsonaro, mas só em visita a outros países
Depois de um dia sem máscara no Rio ao lado de milhares de motociclistas, o presidente Bolsonaro viaja ao Equador e, por lá, usa máscara
Por que o presidente Jair Bolsonaro respeita a lei de outros países, mas as do Brasil não? Ele desembarcou, ontem à noite, em Quito, capital do Equador, usando máscara para proteger-se da Covid-19, mas aqui raramente usa.
Passou o domingo, no Rio, sem máscara e embarcou sem máscara. No Rio, em locais públicos, a máscara é obrigatória, segundo lei aprovada pela Assembleia Legista em junho de 2020. No Brasil, também, segundo lei aprovada no mesmo mês pelo Congresso.
Em março deste ano, sob o comando do então ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, uma comitiva embarcou sem máscara para Israel à procura de um spray nasal contra o vírus. Desembarcou por lá com máscara. Voltou sem o spray.
Bolsonaro está em Quito para a posse do novo presidente do Equador, o empresário de direita Guillermo Lasso, que derrotou o candidato da esquerda. É sua primeira viagem internacional desde o início da pandemia. O uso de máscara no Equador é obrigatório.
Quem ganhou com o encontro entre Lula e Fernando Henrique
Ex-presidentes, um que ainda manda no seu partido, outro que não faz questão de mandar, Lula e FHC fizeram o que acharam certo
Quem ganhou e quem perdeu com o encontro, e principalmente, a foto de Lula (PT) com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) de mãos dadas à moda dos tempos de pandemia? Lula ganhou, mas Fernando Henrique não perdeu.
O encontro foi bem digerido pelo PT, mas não foi pelo PSDB. A Lula, serviu para indicar às forças do centro-direita que ele governará pelo centro caso se eleja presidente no próximo ano. A Fernando Henrique, o encontro serviu para retocar sua biografia.
Lula é um pragmático. Ao se eleger presidente pela primeira vez, logo avisou aos caciques do PT: “Sempre que decido pela esquerda, eu me dou mal”. Lembrou que somente ele e José Alencar, seu vice, haviam sido votados, e prometeu emprego para todos.
Fernando Henrique é um sociólogo. Sem votos para se reeleger senador em 1994, foi salvo pelo Plano Real e virou presidente da República derrotando Lula, que fora seu cabo eleitoral. Ninguém mais do que Fernando Henrique criticou seu próprio governo.
Lula agradeceu a Fernando Henrique o bom tratamento que ele lhe deu antes de passar-lhe a faixa presidencial em janeiro de 2003. “Você terá um amigo no governo”, disse-lhe. Não foi assim. Mais tarde chamou de “herança maldita” os governos do suposto amigo.
Tucanos emplumados acham que o encontro enfraqueceu a busca pelo PSDB de um nome capaz de se oferecer como alternativa a Lula e a Bolsonaro. Se esse nome aparecer, Fernando Henrique o apoiará. No segundo turno, entre Lula e Bolsonaro, irá de Lula.
“Eu sou eu e minha circunstância” é parte da famosa frase “Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim”, do filósofo espanhol José Ortega y Gasset. Uma frase a ser repetida por Fernando Henrique e Lula para explicar o encontro.
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