O general Eduardo Pazuello, coitadinho, limitou-se a obedecer à ordem do presidente Jair Bolsonaro de acompanhá-lo ao Rio no último domingo, montar depois numa moto, percorrer mais de 30 quilômetros em meio a milhares de motociclistas, subir num carro de som e, por último, discursar em defesa do governo.
O que poderia ter feito o general da ativa, portador de três estrelas, para não contrariar o Comandante Supremo das Forças Armadas? Se ele, o general do manda quem pode, obedece quem tem juízo, não cumprisse a ordem que recebeu, poderia até ter sido punido. Desrespeitou o Regulamento Disciplinar do Exército?
Desrespeitou, mas em obediência ao seu supremo comandante que conhece o regulamento desde jovem, e, por desconsiderá-lo, foi afastado do Exército. Não é justo, no entendimento do general, que ele seja punido. Já não basta ter sido demitido do Ministério da Saúde por erros que não foram exclusivamente seus?
De resto, o general, cabeça de papel, ouviu de Bolsonaro que ele garantiria sua retaguarda e não o deixaria ser punido pelo comandante do Exército. É nesse pé que as coisas estavam ontem à noite. Aconselhado por generais de quatro estrelas a abandonar a farda, Pazuello manteve-se firme, forte e desafiador.
Descartou a hipótese de pedir passagem para a reserva em troca de dar-se por superado o que ele fez. Recebeu um formulário para preencher com a sua defesa, mas não sabe se o fará. Está numa sinuca de bico? Admite que sim, mas o general Paulo Sérgio de Oliveira, comandante do Exército, não está em melhor situação.
Vai encarar o presidente da República? Vai castigar Pazuello e arriscar-se a ser desautorizado por Bolsonaro? Vai engolir a seco o que aconteceu e deixar para lá? Vai pedir demissão em último caso? Como reagirão os demais membros do Alto Comando do Exército? E os comandantes da Marinha e da Aeronáutica?
Antigamente, presidente da República que estimulava a quebra da disciplina e da hierarquia militar poderia ser deposto e obrigado a exilar-se. Agora, um mau militar, eleito presidente, subverte a disciplina e a hierarquia por acreditar que no fim vencerá. Se vencer, o golpe foi dado, e não se precisa falar mais disso.
Exército aumenta em mais de 10 vezes a produção de cloroquina
Em ofício à CPI da Covid, o Exército informa que agiu assim a pedido do Ministério da Saúde
Enquanto a secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, depunha à CPI da Covid-19, um dos senadores informava em voz baixa a alguns dos seus pares sobre o ofício enviado pelo Exército a respeito da produção de cloroquina. Conhecida como “capitã cloroquina”, Mayra defendeu a droga ineficaz contra o vírus que segue matando por aqui.
Segundo o ofício, aumentou em mais de dez vezes a produção de cloroquina a pedido do Ministério da Saúde. Em 2017, foram 260 mil comprimidos, o suficiente para o tratamento da malária nos dois anos seguintes. Uma vez que Bolsonaro decidiu que a droga deveria ser usada no combate ao vírus, no ano passado o laboratório do Exército fabricou 3.230 mil comprimidos.
Em dois dias de depoimento à CPI, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, disse que não havia comprado cloroquina em sua gestão e que nunca recebeu ordem para isso de Bolsonaro. Mas em maio de 2020, quando ainda era ministro interino da Saúde, ele deu ordem de compra, sim. Afinal, é o que Pazuello diria depois: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
O general foi demitido por Bolsonaro porque alguma cabeça haveria de rolar e não seria a do presidente. Dos 30 militares da ativa e da reserva levados por Pazuello para o ministério, 20 permanecem ali porque Bolsonaro não quer que eles saiam. Marcelo Queiroga, médico, o quarto ministro da Saúde em pouco mais de um ano, conformou-se em mantê-los.
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