No Eixo Monumental de Brasília se deu o rebuliço. Esvaziado, esfumaçado, patético. Um espetáculo que misturava o grotesco ao surreal, com pitadas de um autoritarismo nativo latente, a evidenciar o último sopro de valentia fora de hora do capitão do Planalto. Esse, diga-se de passagem, cada dia mais isolado, fraco e desprezado. O presidente bananeiro é dado a cenas bizarras. Mas agora passou de todos os limites. Expôs as Forças Armadas ao ridículo em plena Praça dos Três Poderes. Colocou o prestígio da caserna no buraco. E foi apenas o mais brando dos efeitos e consequências. Por ordem, obra e graça de um mandatário que, há muito tempo, perdeu qualquer condição de comandar o País, tanques tomaram as ruas. Algo, normalmente, visto apenas em tempos de guerra ou em governos totalitários que flertam diuturnamente com intentos golpistas. Serviriam os tanques para cessar a sua gradativa e desabalada perda de popularidade, mostrando a força pueril de alguém que precisa de armas para se autoafirmar?
Quanta bobagem ou falta de senso sobre o papel a exercer. Tanques contra as urnas? Para referendar seu desejo de apenas realizar as eleições a sua maneira, caso contrário essas seriam canceladas, como disse? Decerto que sim.
Jair Bolsonaro buscava com o showmício — está mais do que claro! — intimidar. O Congresso, o STF, as instituições moderadoras de uma democracia hoje, claramente, sob ataque. E justamente pelas mãos daquele que jurou obediência à Constituição quando tomou posse. Mera balela, como de resto as demais promessas que fez. Jair Bolsonaro vem rasgando publicamente, um a um, os princípios republicanos, ao arrepio da lei e para surpresa do mundo inteiro. Com a encenação típica de caudilhos, se havia alguma dúvida da incapacidade e insanidade administrativas latentes no capitão, elas foram sanadas. De vez! A “tanqueciata”, como vem sendo chamada, serviu ao menos para consolidar tal impressão. Caros brasileiros, o presidente não bate bem. Mostra, todo dia, estar fora de si, do controle das faculdades mentais e da racionalidade mais elementar exigida para o devido cumprimento do cargo. É hora de providências. Imediatas, sob pena de riscos ainda maiores daqui por diante, na toada dos despautérios e tolices que arquiteta com o intuito de tumultuar a ordem e desmontar o Estado.
Qual mandatário, minimamente consciente, em plena crise da pandemia, com quase 600 mil mortes registradas — parte delas de sua responsabilidade ou fruto da inépcia que exibe — submeteria a Nação a um desfile de veículos blindados, radicalizaria as relações e colocaria em suspeição um sistema eleitoral que nunca teve fraudes, em troca da obsessão de se manter no posto? O simbolismo da micareta militar está claro. O inquilino do Planalto joga medo e pressão na sociedade, instrumentalizando politicamente as Forças Armadas, que deveriam servir ao Estado, jamais ao governo, como reza a Carta Magna. Certamente, com a burlesca performance, conseguiu o contrário. No mesmo dia, parlamentares da Câmara resolveram votar e enterrar de vez a PEC que tratava do voto impresso. Quase em simultâneo, enquanto Bolsonaro brincava de marcha soldado, o Senado aprovou o projeto que revoga a Lei de Segurança Nacional. Instrumentos cerceadores das liberdades e transparência foram, assim, para a latrina.
A proeza do Messias nas movimentações estapafúrdias estava consagrada: em menos de uma semana, irritou com ataques e faniquitos mil, tanto os ministros do Supremo quanto os congressistas, rompendo, a partir dali, com a propalada harmonia dos poderes. Quanta habilidade! Diante da iminente derrota no pleito de 2022, vai tentando pelas beiradas formatar o golpe. Mais de 60 anos depois que o mestre da vassourinha, Jânio Quadros, renunciou falando em pressões de “forças ocultas” como truque, abrindo terreno para a tomada revolucionária em uma ditadura que vingou por mais de duas décadas, o clima de sandices parece ser revivido. Outro embuste político que surge montado na futrica.
A ideia da corrida maluca de tanques contra votos é de uma estupidez sem tamanho. Simulacro de atração imperialista para corroer liberdades individuais. Militares que honram a farda e os direitos sociais vieram a público falar do constrangimento. Trataram o episódio pelo que é: uma anacrônica e inaceitável demonstração de subserviência com a qual não concordam. Ninguém pode se achar capaz de atemorizar a democracia. Nem o mandatário! O que deu para sentir, na verdade, foi pena. Uma paródia teatral que mira o retrocesso, a ruptura, mas que jamais triunfará nesse objetivo.
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