Após sofrer uma hecatombe em 2020, quando cerca de um terço de sua superfície foi consumida por chamas, o Pantanal caminha para repetir o maior desastre ambiental de sua história documentada.
Dados compilados pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro mostram que a destruição da mais extensa planície alagada do planeta segue ritmo semelhante ao do ano passado.
De 1º de janeiro deste ano até sábado (21), já haviam sido devastados pelo fogo 261.800 hectares do bioma —uma área praticamente igual à queimada no mesmo período de 2020, equivalente a duas vezes a do município do Rio.
Embora seja o menor dos seis biomas do país, com 150 mil km², o Pantanal concentra biodiversidade exuberante, com mais de 600 espécies de aves e mil de borboletas.
Tem como característica mais marcante as cheias que se iniciam em fevereiro e chegam a alagar mais de 90% da região, avançando lentamente de Mato Grosso para a porção sul-matogrossense.
Porém em 2021, o terceiro ano consecutivo de estiagem severa, as chuvas foram insuficientes para recuperar rios e inundar baías e corixos. O mais importante rio do Pantanal, o Paraguai, registrou no dia 20 de agosto em Cáceres (MT) seu nível mais baixo, 0,44 metro. A média para a época é de 1,49 metro.
Essa tragédia hídrica, conquanto pareça atingir o ápice agora, vem sendo engendrada ao longo das últimas décadas. De 1985 a 2020, o Pantanal perdeu assombrosos 74% de superfície de água, segundo levantamento recente do MapBiomas Água. O fenômeno não apenas compromete toda a dinâmica ecológica do bioma como favorece a propagação de incêndios.
À seca se soma a mão do homem. Relatório do Instituto Centro de Vida mostrou que, em 2020, 46% da área incendiada ocorreu em propriedades registradas no Cadastro Ambiental Rural, e outros 7%, em assentamentos rurais, ou seja, terra ocupada —evidência de que queimadas surgiram de maneira intencional e criminosa.
Tal situação, tudo indica, vai se repetindo neste ano. Em meio às chamas que ora castigam a cidade de Corumbá (MS), o governo estadual declarou que “infelizmente, há indícios de ação (des)humana”.
Faltando pouco para o início de setembro, quando os focos de incêndio costumam atingir o pico, é urgente que o poder público se mobilize para evitar nova catástrofe.
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