Enquanto Jair Bolsonaro aposta em mais gasto público e assistência social para impulsionar a campanha à reeleição, acumulam-se entraves ao crescimento econômico —o fator mais decisivo para a superação do desemprego e da pobreza— a partir de 2022.
Já não se esperava um desempenho brilhante. As projeções iniciais de analistas do mercado rondavam os 2,5% no próximo ano, depois de uma taxa na casa dos 5% neste 2021. Entretanto as estimativas estão em queda desde março, mal passando dos 2% agora.
Entre os principais motivos para o pessimismo, apenas um não está diretamente associado ao descrédito do governo. Trata-se da perspectiva de escassez de energia elétrica em razão da crise hídrica, que, ainda assim, tende a ser acentuada pela inépcia do Executivo.
As digitais governistas são mais visíveis no aumento da inflação, boa parte dele decorrente da alta do dólar —e as inconsistências da política econômica fizeram da moeda brasileira uma das que mais perderam valor no mundo.
Divulgou-se nesta terça (10) que o IPCA teve variação de 0,96% em julho, a maior para o período desde 2002, e de 8,99% em 12 meses, muito acima da meta de 3,75% fixada para o ano. A agravar o impacto sobre os mais pobres, os alimentos ficaram 13,27% mais caros desde agosto de 2020.
A consequência óbvia é a elevação dos juros do Banco Central, que já saltaram de 2% para 5,25% anuais e devem chegar aos 7,25% até o final do ano, pelas estimativas mais consensuais. Necessária para evitar um mal maior, a medida leva a menos consumo, menos investimento e, portanto, menos crescimento do Produto Interno Bruto.
Como a desvalorização cambial, a alta dos juros também está relacionada à incerteza quanto ao equilíbrio do Orçamento do governo e a evolução da dívida pública. Quanto maiores os riscos, maiores as taxas cobradas pelos credores.
O governo Bolsonaro agravou esse quadro ao apresentar, na segunda (9), proposta de emenda constitucional que permite ao Tesouro parcelar o pagamento de dívidas conhecidas como precatórios a partir de 2022. Com o calote, abre-se espaço para a ampliação da despesa pública no ano eleitoral.
Assim se viabiliza a expansão do Bolsa Família, agora rebatizado Auxílio Brasil. O reforço da proteção social é necessário e seu formato merece debate qualificado; a deterioração orçamentária —para nem mencionar a balbúrdia política e institucional— solapa a economia e condena mais brasileiros a dependerem do socorro oficial.
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