O candidato de esquerda Gabriel Boric foi eleito presidente do Chile neste domingo (19) e será, aos 35 anos, a pessoa mais jovem da história a ocupar o cargo.
Boric, que já foi deputado e líder estudantil, derrotou no segundo turno o advogado José Antonio Kast, candidato da extrema direita, em uma eleição marcada pela polarização política.
Ele teve 55,9% dos votos, contra 44,1% de Kast, e o candidato da extrema direita telefonou para Boric, reconhecendo a derrota e parabenizando-o pela vitória.
“Vou ser o presidente de todos os chilenos, porque acho importante ter interlocução com todos, e os acordos devem ser entre todas as pessoas e não entre quatro paredes”, disse o presidente recém-eleito, que também conversou com o atual mandatário, Sebastián Piñera.
Boric havia ficado em segundo lugar no primeiro turno, com 25,82% dos votos. Kast teve 27,91%.
É a primeira vez em três décadas, desde a redemocratização, que um candidato que não venceu o primeiro turno ganha a eleição. A posse de Boric ocorrerá em março.
Polarização
Boric e Kast representaram lados opostos do espectro político e disputaram cada voto do eleitorado.
O novo presidente representa uma esquerda progressista revitalizada, que cresceu muito desde os protestos de 2019. Já Kast fundou o ultraconservador Partido Republicano e avalizou a mensagem "lei e ordem" na campanha.
Boric disputou a presidência do Chile com a idade mínima exigida e foi o mais jovem dos sete candidatos na disputa pela sucessão do conservador Sebastián Piñera. Sua candidatura representa a coalizão "Aprovo Dignidade", que reúne a Frente Ampla e o Partido Comunista.
Sua maior crítica à democracia após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) é ter continuado com o modelo econômico liberal que deixou uma classe média e baixa endividada para pagar a educação, a saúde e a previdência privada.
Liberal em temas sociais, o novo presidente defende "um Estado de bem-estar" ao estilo europeu na área econômica.
Solteiro e oriundo de Punta Arenas, no extremo sul do país, Boric cresceu no seio de uma família simpática aos partidos Socialista e Democrata-Cristão.
"Sou da Patagônia Austral, onde começa o mundo, onde se fundem todos os contos e a imaginação, no Estreito de Magalhães, que inspirou tantos romances", disse, orgulhoso de sua região.
Ele afirmou ainda que quer para o Chile "algo que na Europa seria bastante óbvio, que é garantir um estado de bem-estar para que todos tenham os mesmos direitos, independentemente de quanto dinheiro possuem na carteira", resumiu.
Alguns pontos do programa de governo de Boric:
foca em três reformas que ele considera essenciais: previdência, saúde e educação
outras três temáticas que permeiam as propostas: feminismo, crise climática e trabalho digno
amplia a participação do Estado para o bem-estar social
há elementos mais moderados em seu programa, como a reforma tributária
mudança do sistema de pensões
O novo presidente governará um país com uma nova Constituição, agora em elaboração, e marcado pela inflação crescente nos últimos dois anos.
Foi a primeira eleição presidencial desde que o país foi abalado pelos protestos generalizados contra a desigualdade que renderam meses de marchas e episódios de violência nas ruas, em 2019.
As eleições presidenciais de 2021 também foram as primeiras em 16 anos sem Sebastián Piñera nem Michelle Bachelet como candidatos a presidente.
Piñera é o atual presidente, mas enfrenta forte rejeição popular e acabou de escapar de um processo de impeachment. Já Bachelet é hoje alta comissária da ONU para os Direitos Humanos.
Resultado do 1º turno
O resultado do primeiro turno, em 21 de novembro, foi apertado na disputa pela presidência do Chile. A liderança ficou com o candidato de extrema-direita, José Antonio Kast. Já o segundo candidato mais bem posicionado foi o Gabriel Boric, da esquerda.
Assim como no Brasil, para vencer as eleições já no primeiro turno, o candidato precisava ter mais de 50% dos votos válidos, o que não ocorreu.
Como nenhum dos candidatos conseguiu uma liderança folgada no primeiro turno, eles dependeram também dos eleitores mais moderados para obter a vitória.
Veja como ficou o primeiro turno das eleições:
José Antonio Kast (Partido Republicano): 27,91%
Gabriel Boric (Convergência Social): 25,82%
Franco Parisi (Partido da Gente): 12,81%
Sebastián Sichel (Independente): 12,79%
Yasna Provoste (Partido Democrata Cristão): 11,60%
Marco Enríquez-Ominami (Partido Progresista): 7,60%
Eduardo Artés (Unión Patriótica): 1,46%
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