Na manhã desta sexta-feira, 21 de janeiro, o presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, anunciou oficialmente os membros do Ministério que, com ele, irá governar o país a partir de 11 de março de 2022, com mandato previsto até 2026.
À primeira vista, o presidente eleito cumpre o que disse em campanha e o que vinha confirmando nos últimos dias: montou um Ministério onde existe paridade de gêneros (inclusive, mais mulheres), com pessoas provenientes de várias regiões do país e com um pluralismo político bastante claro. É um gabinete amplo, com a presença de várias vertentes da esquerda chilena, desde a sua coalisão de apoio (Apruebo Dignidad – PC mais Frente Ampla) original até pessoas vindas da chamada ex-Concertación, especialmente socialistas e ex-socialistas. Mas há a presença também do PPD, PR e PL.
Em relação à Concertación que governou o Chile por mais de 10 anos apenas a Democracia Cristã ficou de fora. Como afirmou o consultor Mario Albuquerque, “as sensações são boas. Uma parte importante da Concertación se integra, com particular peso para o Partido Socialista (PS), mas é relevante mencionar a entrada de Mario Marcel na Fazenda, o que permitiu tranquilizar os mercados”. Vale mencionar que há ai também algo inédito na História do Chile: pela primeira vez um presidente do Banco Central deixa seu cargo para assumir o Ministério da Fazenda. Embora independente, Mario Marcel apresenta-se como declaradamente social-democrata, favorável à estabilidade fiscal e ao controle monetário.
Outra novidade é a presença de Izkia Siches, que foi a chefe de campanha eleitoral de Boric, na pasta de Interior e Segurança Pública. Pela primeira vez na História uma mulher irá responder por esse setor de governo no Estado chileno. Para o mesmo consultor, “apesar dos temores da direita, o perfil do novo governo não tem nada que ver com a esquerda populista do tipo Venezuela”. De fato, a nova chanceler do Chile, Antonia Urrejola, por várias vezes tem manifestado posições criticas aos governos da Venezuela e da Nicaragua, afastando Boric de qualquer vínculo com esse tipo de esquerda. Por fim, e ainda de outra forma, chama atenção, pelo simbolismo, a indicação de Maya Fernández Allende, neta de Salvador Allende e filha de Tati Allende, a filha do ex-presidente que mais se envolveu com a política no governo do seu pai e depois do golpe se exilou em Cuba, onde se suicidou.
O anúncio do Ministério Boric evidencia que se ultrapassou a coalisão originária, Apruebo Dignidad, que o sustentou na disputa eleitoral do primeiro turno. É uma nova coalisão a que dará sustentação ao governo Boric. É certamente distinta da Concertación ou da Nueva maioria (último governo Bachelet). Da coalisão originária há muita gente, inclusive Camila Vallejo representando o Partido Comunista (PC) na Secretaria Geral de Governo, o que coloca esse partido como um “partido de governo”, definitivamente. Não é uma coalisão integralmente pós-eleitoral, como foi a Geringonça, em Portugal, porque foi se formando entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais. Mas talvez tenha algo dela.
Para além da unidade programática, de projeto e de ação administrativa, o governo Boric terá que acompanhar de perto os trabalhos da Assembleia Constituinte, sem interferir nela, e garantir uma expectativa positiva para que o chamado “plebiscito de saída” (para aprovar ou rejeitar a nova Constituição) tenha um grande êxito participativo.
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