Metido até o último fio de cabelo em esquemas de desvios e crimes abundantes, o mandatário Bolsonaro busca recorrer ao ardil da censura. Por 100 anos ao menos, para que muitas gerações fiquem às cegas sobre seus desmandos. É confissão de culpa sem medo de punição. O presidente barbariza e tenta esconder as tramoias com imperiosa determinação. Mesmo de maneira inconstitucional e irregular. Quem disse, por exemplo, que as frequentes visitas ao Palácio do Planalto de pastores venais – comprados ao preço de lingotes de ouro – deveriam ser omitidas sob o manto de informações estratégicas que ameaçariam a segurança nacional? Nem em tempos da ditadura afrontas a transparência administrativa chegaram a esse nível. Ao menos há três anos os brasileiros foram apresentados à roubalheira da rachadinha bolsonarista, envolvendo a família inteira, com os filhos liderando um laranjal de extensas ramificações pela República. De lá para cá, aprimoraram as tungadas.
Superfaturamento na compra de vacinas, na aquisição de ônibus escolares, um verdadeiro balcão de negócios nebulosos plantado no coração do MEC orientado em pessoa pelo capitão. Sim, Bolsonaro desloca quadrilhas de estelionatários para dentro do poder com uma habilidade sem igual. Plantou o Centrão no eixo do comando, com mensaleiros notórios, sob a coordenação do intocável ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Esse está para o Messias como uma espécie de José Dirceu do demiurgo Lula. Personagens assim, de índole duvidosa e práticas deploráveis, estão sendo colocados sob as sombras, escondidos, pelo governo, com o claro objetivo de montar um ambiente de impunidade. Não existe mistério algum no modus operandi de quadrilhas do Estado. Elas se organizam taticamente para cada um lucrar na pilhagem.
Bolsonaro, de sua parte, procura acobertar a gatunagem, faz o possível e o impossível, mexendo as peças de investigação, trocando por gente de confiança titulares da PF, Procuradoria -Geral, Coaf, Receita e, naturalmente, com o aval e engajamento dos parlamentares muito bem pagos por emendas secretas. A delinquência do roubo precisa ficar longe dos holofotes para não despertar inveja, curiosidade, retaliação e punição dos camaradas envolvidos. Foi assim na era Lula. Repete-se com o caudilho Bolsonaro e em áreas mais sensíveis ao interesse público, como a da Educação. O silêncio com o qual o presidente tenta encobrir os malfeitos devasta a credibilidade que um dia ele procurou passar como paladino da justiça, implacável combatente anticorrupção. No mandato, ficou bem longe dessa façanha de herói impoluto.
Contribuiu, ao contrário, para o florescimento de um modelo de suborno legal, à luz do dia, reeditando a sujeira dos governos de cooptação. No pináculo do sistema, vangloriou-se de ter acabado com a Operação Lava Jato. Ele, de público, decretou: agora nada mais é corrupção. E aproveitando a onda dos eufemismos para justificar os furtos em cascata, o ministro Ciro definiu como “corrupção virtual” cada afanada comprovada na pasta da Educação. Já o aliado de primeira hora e chefão da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, classificou como “erros administrativos” o cambalacho de verbas distribuídas a pastores. A desfaçatez dessa gente não tem limite. Ciro Nogueira é frequentador de longa data do clube da bandidagem. Há pouco tempo voltou a ser denunciado pela PF como corrupto. Dias atrás, apagou dos registros oficiais os encontros comprometedores que teve com os religiosos metidos em desvios.
No CADE, plantou um apadrinhado a quem se refere como “meu menino” (vai saber lá para quê?). Seria de estranhar que alguém com a sua ficha corrida de crimes ocupasse um posto tão estratégico na esfera federal. Mas não na Era Bolsonaro. O capitão tem especial predileção e impulso por proteger aqueles que, com ele, participam da malandragem. Impôs os 100 anos de sigilo ao notório desvio de conduta do ex-ministro general Pazuello, quando esse participou ilegalmente de atos políticos pregando ataques a instituições de Estado, e ainda resistiu duramente a dispensar outro integrante da Esplanada, o ex-titular do MEC, Milton Ribeiro, flagrado em gravações comprometedoras.
Ribeiro somente foi banido quando ficaram insustentáveis as pressões e ele passou a representar um risco à reeleição. Do contrário, teria continuado onde estava. O presidente chegou a alardear aos quatro ventos que colocava o rosto no fogo pelo dileto assessor. O ideal mesmo, o desejo inconfessável do “Mito” é o de manter sua trupe e seus trampos fora da mira da Lei. Arquiteta a maquiagem de rastros e provas – até as visitas dos filhos estão sendo colocadas em sigilo de 100 anos – e conseguiu enterrar inclusive a CPI das fake news. São assustadoras as perspectivas do que ele ainda maquinará até a chegada de um novo mandato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário