O mais novo integrante do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Gustavo Augusto Freitas de Lima, disse, em entrevista ao Estadão, que, como parte do esforço para reduzir o preço dos combustíveis, o Brasil deveria ser menos “leniente” com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que atua como cartel.
Ex-assessor especial de Bolsonaro, o conselheiro do Cade disse que a Petrobras, ao assumir uma política de preços de combustíveis alinhada às variações do petróleo no exterior, teria agido em associação com a Opep, razão pela qual a estatal brasileira estaria praticando condutas anticoncorrenciais. “O Cade foi leniente com a Opep, mas qual órgão regulador enfrentou a questão? Talvez o Brasil seja pioneiro”, disse Lima.
A pretensão do conselheiro do Cade em relação à Opep é risível. O cartel do petróleo, fundado em 1960, é um fato consumado, atuando desde então para controlar o preço internacional do produto. Nem grandes potências como os EUA são capazes de desafiar, na prática, o poder da Opep.
Mas o discurso do conselheiro Lima, tirante o delírio sobre a Opep, tem um alvo bem definido: a Petrobras. Ele disse suspeitar que possa haver um “conluio” para a Petrobras “não produzir o que poderia, para maximizar o lucro e inflar o preço”. O uso do termo “conluio” não parece gratuito: significa conspiração, trama, mancomunação, com o objetivo de lesar os consumidores brasileiros. O espírito da declaração não poderia ser mais bolsonarista: não importa o fato de que a Petrobras precisa alinhar-se aos preços internacionais sob pena de sofrer prejuízos que, ao fim e ao cabo, serão pagos por toda a sociedade; o que interessa é fazer Bolsonaro posar de cruzado da gasolina barata. “É extremamente difícil chegar ao posto de gasolina, ver o preço a R$ 8 e achar que é normal”, disse o valente conselheiro.
Enquanto Bolsonaro encena sua luta contra gananciosos executivos da Petrobras, contra governadores insensíveis que só pensam em arrecadar impostos sobre combustíveis e, agora, contra o tirânico cartel da Opep, os preços dos combustíveis no mercado interno voltaram a subir – mas, mesmo que o conselheiro Lima se espante, permanecem inferiores aos preços internacionais.
A principal consequência desse descolamento praticado pela Petrobras recai sobre os próprios consumidores, já que os importadores simplesmente pararam de operar para não perder dinheiro. Com a guerra na Ucrânia e o boicote europeu à Rússia, o risco, agora, é faltar diesel no País, como têm alertado distribuidoras e postos. Isso já tem ocorrido no Espírito Santo, segundo o sindicato local, e deveria ser motivo de preocupações dentro do Cade, uma vez que a escassez do insumo tende a pressionar ainda mais os preços. Sobre esse problema real e que demanda solução, no entanto, é claro que o governo não se manifestou.
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