Movimento rebelde que eclodiu no extremo-sul de Pernambuco, Alagoas atual, no último quartel do século XVI e se desenrolou até às primeiras décadas do século XVIII, o Quilombo dos Palmares representou a nossa primeira luta de classes, apontando para o desmoronamento do mundo das tribos. Foi um Brasil às avessas, sem latifúndio e com trabalho livre. E uma sociedade multiétnica também. Foi, a meu juízo, o maior libelo contra a escravidão no mundo.
Eu me tornei historiador por causa de Palmares. Sob essa ótica, foi fundamental para mim a leitura do livro de Edison Carneiro, O Quilombo dos Palmares, quando tinha apenas 16 ou 17 anos. Quando tive de sair do Brasil, ainda muito jovem, há exatas cinco décadas eu me agarrei à experiência de Palmares para entender a formação da nacionalidade brasileira.
Em 1978, apresentei uma dissertação sobre a epopeia palmarina junto à Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris. Dez anos depois, no Centenário da Abolição, publiquei Memorial dos Palmares no Brasil. E não parei mais de pesquisar sua extraordinária trajetória libertária. Memorial dos Palmares está hoje em sua quarta edição, tendo a última delas saído pela Fundação Astrojildo Pereira.
Agora, o tradutor francês Jérémy Millaud começou a traduzir a obra na França. Fico muito orgulhoso com isso. E estou me esforçando para viabilizar sua edição em francês, língua oficial de cerca de 50 países no mundo, muitos deles situados na África.
Nenhum comentário:
Postar um comentário