segunda-feira, 11 de abril de 2022

SEGUNDA RODADA

Editorial Folha de S.Paulo

Realizado no domingo (10), o primeiro turno da eleição presidencial francesa repetiu em linhas gerais o cenário do pleito anterior, de 2017. Assim como há cinco anos, os dois primeiros colocados foram Emmanuel Macron e Marine Le Pen.

Enquanto o presidente centrista alcançou 28% dos votos, ante 24% em 2017, a candidata de ultradireita amealhou 23% dos sufrágios, pouco mais do que os 21% conquistados na outra disputa.

Verificou-se novamente o desencanto dos eleitores com os partidos tradicionais de centro-direita e de centro-esquerda, consolidando o ocaso das forças que dominaram a política francesa a partir do pós-guerra. Os Republicanos, herdeiros do gaullismo, conquistaram cerca de 5% dos votos. Já o Partido Socialista obteve menos de 2%.

Após um início de mandato envolto em grandes expectativas, Macron enfrentou no governo uma série de percalços, crises e protestos massivos, como o dos "coletes amarelos". Logrou, contudo, conservar um núcleo estável de apoiadores e busca agora ser o primeiro presidente francês reeleito desde Jacques Chirac, há 20 anos.

Para isso, promete tanto reajustar o salário mínimo como manter a impopular, mas necessária, elevação da idade de aposentadoria.

Já Le Pen, que disputa a Presidência pela terceira vez, empreendeu nos últimos anos uma bem-sucedida estratégia para se tornar mais palatável ao eleitor médio, deixando o discurso ideológico em segundo plano. Abandonou, nesse movimento, propostas como a saída da França da União Europeia e a criminalização do aborto.

No pleito, esse movimento tático foi beneficiado pela candidatura do direitista Éric Zemmour, cujo discurso francamente radical fez com que Le Pen soasse mais moderada na comparação. Pragmática, ela centrou sua campanha nas classes populares e nos impactos da recente alta da inflação.

Sua plataforma, contudo, preserva propostas abertamente discriminatórias contra imigrantes, como a realização de um plebiscito para redefinir a nacionalidade francesa, de modo a assegurar a prioridade dos "verdadeiros cidadãos" no acesso a habitação e emprego.

Outras promessas de cunho xenófobo versam sobre a "erradicação de ideologias islamitas" do país e multas para mulheres que usem véu em espaços públicos.

Se há cinco anos Macron triunfou sobre Le Pen pelo dilatado placar de 66% a 34% no segundo turno, hoje analistas colocam em dúvida a repetição dessa frente ampla a seu favor. Não resta dúvida de que ele segue favorito para se manter na Presidência, mas o risco de Le Pen —e a direita radical— chegar ao Palácio do Eliseu nunca foi tão grande como agora.

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