Uma guerra universalmente condenada deveria colocar contra a parede os aliados do agressor. As eleições na Hungria e na Sérvia mostram que a realidade pode ser bem mais complexa sob a sombra da invasão russa da Ucrânia.
Viktor Orbán é um autocrata incrustado na União Europeia e na Otan, a aliança militar ocidental. Foi reeleito para o quinto mandato, o quarto em sequência, pelos húngaros, neste domingo (3).
E não foi uma vitória qualquer. Seu partido manteve os dois terços do Parlamento necessários para instrumentalizar as instituições de seu país, Judiciário à frente.
Não é casual que, depois de beijar a mão de Vladimir Putin, Jair Bolsonaro (PL) tenha ido abraçar o "irmão" Orbán, com quem comunga valores reacionários.
O húngaro é o principal aliado de Putin na Europa, tendo popularizado o oximoro democracia iliberal para caracterizar seus regimes. Nem sempre foi assim, num balé de interesses regido por sua dependência energética de Moscou.
A guerra pautou o final da campanha eleitoral, que viu uma oposição unida, clamando pela ocidentalização da Hungria. Orbán driblou todos, apoiando sanções europeias sem criticar o Kremlin.
Deu certo. Algo semelhante ocorreu na Sérvia, onde Aleksandr Vucic reelegeu-se confortavelmente presidente. Assim como o Brasil, Belgrado condenou a invasão da Ucrânia na ONU, mas evitou críticas mais contundentes a Putin.
A situação ali é diversa da húngara, já que sérvios não são membros da União Europeia e, eslavos, têm com a Rússia laços culturais, religiosos e econômicos. Entretanto o iliberalismo de Vucic foi igualmente recompensado.
Isso tudo chama a atenção também para o presidente francês, Emmanuel Macron. Ele lidera a corrida para o primeiro turno, que ocorre no domingo (10), sem folga —e poderá ver a união de candidatos da extrema direita na rodada final.
Sempre vistos como um fantasma que não se materializa, esses rivais de Macron são próximos de Putin, e a guerra tem cobrado seu preço na economia francesa de forma que pode afetar o pleito.
Não é possível ainda falar em uma onda conservadora e tolerante com a guerra, assim como era apressada a visão de uma América Latina toda à esquerda devido ao caso do Chile. Mas Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro e companhia deverão prestar atenção ao que acontece do outro lado do Atlântico.
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