domingo, 15 de maio de 2022

BOLETIM DA DEVASTAÇÃO

Editorial O Estado de S.Paulo

Já virou rotina. Toda vez que o presidente Jair Bolsonaro é pressionado pela comunidade internacional sobre o meio ambiente, reage com alguns dados históricos sobre a preservação no País.

Recentemente, ele publicou um vídeo para mostrar “a verdade da preservação ambiental comparando o Brasil ao mundo”, com dados como os cerca de 2/3 de vegetação nativa (3/4 na Amazônia), 3/4 de fontes energéticas renováveis, 14% de reservas indígenas, além da sustentabilidade e produtividade do agro: com 7% do território destinado à agricultura, o Brasil responde por 1 em cada 5 pratos de comida no planeta.

São verdades que devem orgulhar os brasileiros. Mas, longe de prestigiar a gestão ambiental do governo, elas expõem a sua miséria. Em décadas no Congresso, o parlamentar Bolsonaro nada fez por essas conquistas, e no Planalto, fez mais do que ninguém para destruí-las.

É outra rotina: a cada mensuração do desmatamento, um novo recorde. Em abril, pela primeira vez na série histórica iniciada em 2015 do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o desmatamento na Amazônia ultrapassou 1.000 km². O índice é 74% maior que o recorde anterior (580 km² no ano passado) e 165% maior que a média para o mês.

No governo Bolsonaro o desmatamento cresceu 76%. Em terras indígenas, o garimpo e o desmate dobraram. Os recordes se multiplicam e tudo indica que em 2022 outros serão batidos. Como disse à Rádio Eldorado o secretário-geral do Observatório do Clima, Márcio Astrini, diante do ano eleitoral e da eventual troca de governo os desmatadores estão acelerando a devastação. “O criminoso se sente amparado pela ação e omissão do governo.”

Com efeito, segundo o MapBiomas, desde 2019, apenas 2% dos alertas de desmatamento têm registro de autorização ou de fiscalização. Eles cobrem só 13% da área desmatada no período.

Não é só incompetência. É malevolência. O desmanche dos órgãos de controle é outro recorde bem documentado. Já em 2019 Bolsonaro celebrou a queda nas autuações. “E vão continuar diminuindo. Vamos acabar com essa indústria da multa no campo.”

As consequências são catastróficas, não só para o meio ambiente, mas para a economia e a diplomacia. O governo Bolsonaro trancafiou o Brasil em um círculo vicioso. Sem credibilidade, o País tem dificuldade de atrair recursos internacionais para preservar a Amazônia. O desmatamento se agrava, as ameaças de sanções tendem a diminuir e os investimentos no agro também. A sociedade tende a  se empobrecer, em especial os produtores rurais, particularmente os mais pobres, que acabam recorrendo a práticas ultrapassadas e predatórias para compensar suas perdas.

“As pessoas dizem que o Brasil é uma bomba climática e o mundo sofrerá as consequências”, diz o vídeo publicado por Bolsonaro. “Isso é uma mentira.” Comparativamente, ainda é. Mas dificilmente será se esse governo receber outro mandato para consumar sua obra de destruição. A “bomba climática” tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro. Isso é uma verdade. E o Brasil já sofre as consequências.

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