Começou mal o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, muito mais conhecido por seu entusiasmo bolsonarista do que por sua competência para a função recém-assumida. Seu primeiro ato, segundo anunciou, seria pedir estudos para a desestatização da Petrobras e da Pré-Sal Petróleo (PPSA), responsável pelos contratos de exploração das jazidas oceânicas mais profundas. Não há como realizar essas privatizações neste fim de mandato nem tem sentido discuti-las agora. O pronunciamento de Sachsida pode ter servido, por um breve momento, para desviar a atenção da figura de seu chefe, um presidente acuado num cenário de inflação desatada, juros muito altos, inadimplência elevada e amplo desarranjo da produção e do emprego.
Sachsida substituiu um ministro, o almirante Bento Albuquerque, afastado por Bolsonaro depois de mais uma alta do preço do diesel. Sem ter conseguido submeter a Petrobras a seus objetivos políticos, o presidente optou por eliminar o ministro responsável pela área energética. Na melhor hipótese, do ponto de vista presidencial, esse ato serviria para marcar o demitido como culpado pelo encarecimento do combustível. O almirante seria convertido em bode expiatório – expressão usada por vários comentaristas. Mas como disfarçar a inflação de 1,06% em abril, a mais alta para o mês em 26 anos, e a taxa de 12,13% acumulada em 12 meses?
Em nenhum momento o novo ministro cuidou diretamente, em seu discurso inicial, dos preços dos combustíveis ou da inflação. Sua crítica a “medidas pontuais”, de impacto às vezes “oposto ao desejado”, poderia ser interpretada como recusa das tentativas improvisadas de conter os aumentos nas bombas. Mas seria difícil imaginá-lo criticando o presidente. Sachsida mostrou-se um entusiasmado bolsonarista desde antes da eleição, em 2018, e participou, depois, de manifestações a favor do presidente.
Sem discutir as funções, os objetivos e problemas do Ministério de Minas e Energia, Sachsida dedicou boa parte de seu pronunciamento a questões de política econômica. Comentando as tendências do investidor internacional, falou sobre a importância de apresentar o Brasil como um porto seguro para a aplicação de capitais. Alongou essas observações, mas sem dizer se o País já tem essa imagem ou como se poderia consolidá-la.
Não explicou, por exemplo, como poderá ser visto como “porto seguro” um país no qual as instituições democráticas são ameaçadas pelo presidente da República. Não mostrou a segurança de uma economia onde se adota um orçamento secreto, as normas fiscais são com frequência atropeladas e a política econômica é decidida de improviso, no dia a dia, sem planejamento e sem rumo. Não indicou por que se deve confiar num mercado com ampla instabilidade cambial, resultante principalmente da insegurança causada pelos desmandos presidenciais. Além disso, como desconhecer essa instabilidade, se a frequente fuga dos investidores já é um forte sinal de insegurança?
Não causaram surpresa a frouxidão e as omissões do discurso do novo ministro de Minas e Energia. Como servidor do Ministério da Economia, de onde saiu para o novo posto, Sachsida era conhecido pela insistência em mostrar um quadro sempre melhor que a realidade vivida pelas famílias, conhecida no dia a dia dos mercados e descrita pela imprensa profissional. Por que perder tempo criticando as projeções do mercado e das instituições multilaterais, além das avaliações dos jornalistas, quando o próprio ministério reduziu de 2,1% para 1,5% sua estimativa de crescimento econômico em 2022?
Discutir a privatização da Petrobras ou de qualquer estatal é perfeitamente razoável quando se pensa em fortalecer uma economia de mercado. Mas o assunto envolve questões constitucionais ligadas a valores e objetivos do Estado. Um debate sério deve incluir considerações estratégicas e políticas, trate-se de privatização ou de estatização. Melhor esperar o início do novo mandato presidencial para abrir esse processo, com a participação, talvez, de atores mais qualificados.
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