Morre José Luiz de Magalhães Lins, banqueiro que financiou o cinema novo
Patrocinador de obras como "Deus e o Diabo na Terra do Sol", Lins morreu em sua casa no Rio, de causas naturais
SÃO PAULO Morreu na tarde desta sexta-feira (3) o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins, aos 93 anos. A informação foi confirmada pela família, que disse que o falecimento ocorreu por causas naturais.
Lins tratava de pneumonia e morreu em sua casa no Rio de Janeiro, às 14h20. "Ele partiu há pouco e teve uma passagem pacífica. Estamos consternados, porém em paz", disse José Antonio Magalhães Lins, um dos filhos do banqueiro.
Nascido em Arcos (MG), Lins trabalhou no Banco Nacional de Minas Gerais, onde começou como escriturário, em 1948, e permaneceu até se tornar diretor-executivo da instituição, que alcançou o posto de segundo maior banco privado do país.
Próximo a políticos, artistas, militares, atletas, jornalistas e empresários, atuou nos bastidores de episódios centrais da história recente do Brasil, como mostra reportagem da Folha, de 2020.
Comandou a campanha de João Goulart pela volta do presidencialismo, participou das articulações do golpe militar no ano seguinte e salvou Garrincha da cadeia.
No entanto, o banqueiro ganhou fama após se tornar um dos principais financiadores do cinema novo, movimento cinematográfico brasileiro dos anos 1960 e 1970.
Lins patrocinou obras como "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Terra em Transe", de Glauber Rocha; "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos; "Os Fuzis", de Ruy Guerra; "A Grande Cidade", de Cacá Diegues; entre outros clássicos do cinema nacional.
"O exemplo do sr. José Luiz Magalhães Lins é de extraordinária importância neste momento que vive o cinema brasileiro, o mais fértil de sua história", escreveu Glauber Rocha, em 1963.
Em entrevista ao jornalista Claudio Leal, uma das raras que já concedeu, Lins destacou a retidão dos cineastas naquela época. "Enquanto eu estive no negócio, ninguém deu prejuízo. Ninguém."
Entusiasta da literatura e das artes plásticas, o banqueiro também financiou o prêmio literário Walmap, a editora Civilização Brasileira e o jornal Pif-Paf, de Millôr Fernandes.
Como mostra a reportagem da Folha, sua atuação diversa deu trabalho para que o SNI (Serviço Nacional de Informações) definisse sua "posição ideológica" durante a ditadura militar. Em relatório de 1979, o órgão escreveu que "os registros não permitem opinião conclusiva".
O banqueiro conviveu com figuras que transitavam por todo o espectro político. Antes do golpe militar, ele coordenou campanha de João Goulart, em 1963. Um ano depois, seu tio Magalhães Pinto se alinhou ao regime na conspiração contra Jango.
Outro episódio marcante de sua vida foi com Garrincha. Como conta Ruy Castro, em "Estrela Solitária", Lins ficou sabendo que o craque poderia ser preso por não pagar a pensão da ex-esposa e das filhas. Para salvar o jogador, o banqueiro assinou um cheque, em 1968, e pediu a seu assessor para pagar a dívida.
O banqueiro José Luiz de Magalhães Lins em imagem dos anos 1970 - Acervo pessoal
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