quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O CENTRÃO NA LUTA DE CLASSE

Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo

Lula mantém queda de braço com centrão por agenda econômica

Presidente compra novo constrangimento público com o grupo para destravar medidas de redistribuição

Lula lançou o Congresso contra a parede para destravar uma pauta que ele trata como prioridade. O presidente reforçou uma plataforma de redistribuição de renda, defendeu propostas que ampliam a taxação dos mais ricos e disse que deputados e senadores "não votam a favor dos interesses da maioria do povo".

"Eu espero que o Congresso Nacional, de forma madura, ao invés de proteger os mais ricos, proteja os mais pobres", disse o petista nesta terça (29). "Vamos fazer esse debate para a sociedade perceber quem é que está do lado de quem."

O alvo de Lula é o mesmo centrão que está prestes a entrar no governo. Apesar do acordo, o petista recebeu todos os sinais de que a turma que dá as cartas no Congresso está ansiosa para extrair benefícios da parceria, mas não vai se converter a todos os itens da agenda do presidente.

O petista viu o centrão apoiar propostas que contavam com a boa vontade de operadores econômicos, mas trata essa aliança como adversária de uma política redistributiva que ele levantou na campanha e pretende imprimir como marca do mandato.

Lula fez as contas para que o reajuste do salário mínimo e a ampliação da isenção do Imposto de Renda coincidissem com o envio ao Congresso de propostas para taxar aplicações fora do país e os rendimentos dos chamados super-ricos. A ideia era mostrar que a agenda econômica do governo pode superar uma fase de ajustes e alcançar o que os petistas descrevem como justiça social.

O presidente sabe que o centrão não votaria contra medidas populares como o aumento do salário mínimo, mas esses parlamentares têm resistências nada discretas à tributação dos mais ricos. Sem poder suficiente para fazê-los mudar de ideia, Lula usa a arma do constrangimento público e recorre à conhecida cartilha da disputa de classes.

Ao pressionar os parlamentares, o presidente reconhece que governo e centrão devem viver uma queda de braço permanente. A flutuação da popularidade de Lula pode favorecer um ou outro lado da briga.

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