Um dos motivos da melhora da produtividade, segundo os analistas da FGV, é o aumento do emprego formal neste ano
A aprovação da reforma tributária encheu de otimismo os que contam com a modernização da economia para melhorar a produtividade do país. Historicamente muito baixa, a produtividade mostrou recuperação surpreendente neste ano graças a uma combinação de fatores. Mas precisa muito mais para manter os ganhos em 2024 e avançar.
O Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), calcula que, de 1981 a 2022, o crescimento médio da produtividade por hora trabalhada, uma das métricas mais utilizadas, foi de mero 0,5% ao ano. Segundo o ranking de produtividade da World Population Review de 2022, mencionado em artigo no Valor (30/11), o Brasil estava em 57º lugar entre 62 países, atrás de Argentina, México, Uruguai, Chile, Colômbia, Peru e Equador. Países desenvolvidos exibiam índices muito superiores, como a Noruega (sete vezes maior), os EUA (6,2 vezes) e a Alemanha (5,3 vezes).
Desde a década passada, os índices de produtividade do trabalho oscilam como uma gangorra no Brasil. Houve queda na recessão de 2015 e 2016, uma recuperação tímida em 2017 e 2018, e novamente queda em 2019. Quando sobreveio a pandemia, ela surpreendentemente saltou, em consequência do chamado efeito composição. Em consequência das medidas de restrição à mobilidade, houve a saída do mercado de trabalhadores menos produtivos, como os informais, de atividade em serviços presenciais como alimentação e hospedagem. O mesmo fenômeno aconteceu em outros países.
Nos dois anos seguintes, o processo se inverteu. Os trabalhadores informais voltaram ao mercado e, aos poucos, houve a retomada dos serviços presenciais. Com isso, a produtividade do trabalho retomou a tendência de queda anterior, lembraram os analistas do Observatório Fernando Veloso e Fernando de Holanda Barbosa Filho, no Seminário Produtividade e Mercado de Trabalho, realizado na semana passada pelo FGV Ibre e pelo Valor e transmitido em live.
A novidade mesmo aconteceu neste ano, quando a produtividade por horas efetivamente trabalhadas cresceu em todos os trimestres na comparação com o mesmo período de 2022. No terceiro trimestre, o crescimento foi de 2,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Na mesma base de comparação com iguais períodos de 2022, a produtividade cresceu 1,4% no primeiro trimestre e 2,7% no segundo. Agora, o índice de produtividade está 2,6% acima do nível pré-pandemia, salientou Veloso, coordenador do Observatório. No caso da produtividade total dos fatores (PTF), que leva em conta também o capital, a alta foi de 0,5% na mesma comparação do terceiro trimestre deste ano e o mesmo de 2022.
Um dos motivos da melhora da produtividade, segundo os analistas da FGV, é o aumento do emprego formal neste ano. Mais da metade das pessoas que entraram no mercado de trabalho conseguiu emprego formal. São geralmente profissionais com maior escolaridade e produtividade. Segundo dados da Pnad Contínua, calculada pelo IBGE, o número de empregados com carteira de trabalho no setor privado chegou a 37,6 milhões de trabalhadores, o maior contingente desde junho de 2014. A taxa de desemprego no trimestre móvel terminado em outubro ficou em 7,6%, abaixo dos 8,3% do mesmo período de 2022. Para os especialistas do FGV Ibre, a criação expressiva de empregos formais é sinal do sucesso da reforma trabalhista.
Outro fator que influiu no aumento da produtividade foi o desempenho do setor agrícola, que também impulsionou o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. A produtividade por horas efetivamente trabalhadas na agropecuária saltou 14,6% no terceiro trimestre em relação a igual período de 2022. Enquanto isso, a produtividade do trabalho da indústria aumentou 3,3%, e a dos serviços, 0,8% na mesma base de comparação. Foi o segundo trimestre seguido de expansão da produtividade nos três setores. Em detalhes, a indústria extrativa mineral, a intermediação financeira e os serviços industriais de utilidade pública têm apresentado forte crescimento no valor adicionado e contribuído para a elevação da produtividade.
Mas é o desempenho do agronegócio (incluído insumos, máquinas e indústrias de alimentos) que é surpreendente, como foi em 2017, embora insuficiente para causar impacto significativo dado que representa menos de 25% do PIB. Para mostrar alguma diferença o impulso deveria vir dos serviços, que significam 70%, segundo os analistas do FGV Ibre.
Para Veloso, as reformas feitas ao longo dos últimos anos podem igualmente estar favorecendo a produtividade. Entre elas, mencionou a PEC da Transição, as reformas trabalhista e da Previdência, os marcos das garantias e o do saneamento e, agora, a reforma tributária. Mas esta entra agora na fase decisiva de regulamentação e definição de produtos e serviços beneficiados por tratamento especial, que vão determinar o resultado final. Como se sabe, o diabo está nos detalhes.
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