segunda-feira, 24 de junho de 2024

COMBATE À CRISE EXIGE UNIÃO

Preto Zezé, O Globo

Entes federados e Poderes da República necessitam colaborar entre si para enfrentar os desafios

Boa parte da crise institucional brasileira advém da descrença na política e no Estado e da baixa qualidade de suas ações — mas também de como são elaboradas as políticas, sem participação social qualificada. A isso somam-se a desorganização e a desmobilização dos setores populares, diante da distância dos mecanismos de decisão. São fóruns e horas de debate com pouca eficácia e lentidão da burocracia estatal ante as agonias do povo. A distância se torna maior devido ao calendário de eleições bianual, gerando uma terrível distorção entre as necessidades reais e a retórica eleitoral.

Estive com gestores de diversas posições ideológicas, da direita à esquerda, em razão das tarefas institucionais que me conduzem a uma posição pragmática pelos interesses das favelas e à disposição de diálogo com todos. Encontrei governadores como Ronaldo Caiado, Elmano de Freitas, Tarcísio de FreitasFátima BezerraHelder BarbalhoCláudio Castro, com os ministros Renan Filho e Ricardo Lewandowski, para citar alguns. Há consenso de que os entes federados e os Poderes da República necessitam de colaboração entre si para enfrentar os grandes desafios nacionais, apesar das características locais.

Um exemplo é a segurança pública, a pauta mais cara à sociedade, confirmada pelas pesquisas como primeira nas preocupações dos brasileiros, exigindo esforço máximo. Apesar de muitas iniciativas vitoriosas, a criminalidade e a violência migram e se modernizam, enquanto o Estado brasileiro é lento e atrasado em seu enfrentamento. Observamos a disputa de protagonismo e acusações trocadas entre quem fez a melhor ou a pior política, perdendo a possibilidade de construir consensos e um sistema único de segurança pública integrado, mais eficiente e menos letal. O que temos é caríssimo, ineficaz e reprodutor de derrotas seguidas, tanto para a sociedade quanto para os trabalhadores da segurança pública, que expõem suas vidas numa guerra sem vencedores. Padecem trabalhadores, pobres e pretos, sejam eles com fardas ou não.

A superação virá, a meu ver, por meio de plataforma com agendas comuns, integrando o setor privado moderno, compromissado com o desenvolvimento nacional das políticas públicas e com agenda real de oportunidades e distribuição de riquezas, sem perder as possibilidades que cada ente está a produzir. E, para a sociedade, novos mecanismos de participação que dialoguem com os setores que definem as políticas públicas, não os limitando às participações cosméticas que justificam a retórica da pseudodemocracia. Caso esse contrato social não seja feito, todos contribuiremos para o afastamento das pessoas da política e puniremos aqueles que não têm acesso aos salões onde o poder se reúne.

Assim, deixaremos um terreno fértil para aventureiros, falsos messias e salvadores da pátria canalizarem a insatisfação popular para o extremismo, transformando a indignação em dividendos eleitorais, fazendo das nossas dores seu púlpito.

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