O Brasil, há um ano da COP30 que se realizará em Belém do
Pará, de 10 a 21 de novembro de 2025, prepara-se para receber mais de 60
mil pessoas, incluindo chefes de Estado, diplomatas, organizações empresariais
e da sociedade civil de 193 países do mundo.
A COP30 coloca o Brasil na centralidade das discussões
ambientais globais e regionais: advogando a consequente redução dos gases de
efeito estufa, a preservação dos nossos ecossistemas, particularmente
amazônico, da biodiversidade, dos oceanos, da água, ampliação do uso de
energias renováveis, assim como a mitigação dos impactos econômicos e sociais
causados pelas mudanças climáticas, ora em curso, atingindo toda a humanidade.
A Paz como fundamento da sustentabilidade humana no
planeta
A Paz, nunca foi devidamente considerada nos Fóruns
Ambientais Globais como fundamento da sustentabilidade humana no Planeta.
Portanto, propomos considerar a Paz como princípio nas relações dos seres
humanos entre sí e com a própria natureza.
Os horrores das guerras, acompanhadas em tempo real e
espetacularizadas nos meios de comunicação, evidenciam a barbárie do mundo em
que vivemos, que nada aprendeu diante das tragédias desencadeadas durante as
guerras mundiais do século xx, provocadas pelo nazi-fascismo e o holocausto
nuclear liderado pelos EUA contra o Japão.
As atuais guerras em andamento, envolvendo
a Ucrânia e a Rússia, assim como Israel, a Palestina, o Irã e o Líbano, são
pontas do iceberg: persiste a cultura da guerra fria, subordinando a Europa à
política militar da OTAN, diante de um beligerante cenário político
internacional, colocando em risco a existência da própria humanidade no
planeta.
Os gastos militares dos países da OCDE aumentam
significativamente, sobretudo os dos EUA, China, Rússia, Ucrânia, Israel e da
União Européia. Segundo os dados do conceituado Instituto de Pesquisa para a
Paz, de Estocolmo, apenas os EUA e a Rússia totalizam 90% do arsenal nuclear
mundial, perseguidos pela China que vem se modernizando militarmente, inclusive
na área nuclear.
Destaque-se, segundo o referido Instituto, os fabulosos
gastos militares dos Estados Unidos no ano de 2023, da ordem 916 bilhões de
dólares, vindo em seguida a China com 296 bilhões de dólares e a Rússia, em
terceiro lugar, com 109 bilhões de dólares. Na sequência, temos Índia, Arábia
Saudita, Reino Unido, Alemanha, Ucrânia, França, Japão. Dos países em guerra, a
tragédia maior é da Ucrânia, que investe 37% do seu pib em gastos militares. A
Rússia utiliza 5,9 % e Israel, na décima quinta posição, aplica 27,5
bilhões de dólares, correspondente a 5,3 % do PIB nacional.
São valores astronômicos, relacionados claramente com as
tragédias políticas, econômicas, sociais e ambientais de cada país e as regiões
onde as guerras acontecem. Há ainda as tenebrosas transações envolvendo os
complexos industriais militares das potências hegemônicas com os países
asiáticos, africanos e latino-americanos.
Como a Comunidade Internacional está se posicionando
frente a esta trágica realidade?
As guerras e os conflitos regionais colocam em cheque o
anacronismo das atuais organizações multilaterais, principalmente da ONU, que
ainda funcionam com a lógica dos vencedores da segunda guerra mundial, com o
poder de veto da Rússia (substituindo a URSS), os EUA, a Inglaterra, a França e
a China.
Segundo a ONU, existem atualmente no mundo 30 regiões em
conflito, a maioria armados. Os conflitos envolvem disputas territoriais,
diferenças étnicas, religiosas e apropriação das fontes naturais: água,
petróleo, gás, biomassa, energia solar, eólica. Portanto, existem no mundo, há
décadas, zonas de tensão geopolítica não resolvidas, a exemplo das Coreias, do
Irã, da Palestina e Israel. Considerem-se ainda os movimentos separatistas que
criam instabilidades políticas e econômicas, como na Irlanda do Norte, no País
Basco e na Catalunha, no Quebec e na Colômbia, entre outros.
Ao mesmo tempo, a humanidade convive com as questões
relacionadas às mudanças climáticas. Os investimentos do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA-2023) em relação a Adaptação
Climática para o ano de 2023, seriam da ordem de 200 bilhões/ano, sob a
responsabilidade, principalmente do G20, mas não se realizaram. Os
investimentos e as ações mitigadoras em relação às mudanças climáticas estão
sempre sendo adiados, atingindo sobremaneira as populações mais vulneráveis da
África, Ásia e América Latina. Os investimentos anuais seriam da ordem de 200
bilhões para a minimização dos efeitos climáticos, segundo o referido
relatório. No mesmo ano de 2023, os gastos militares dos EUA, China e Rússia
foram acima de 1 trilhão de dólares!
Portanto, constata-se que as guerras e os conflitos
regionais drenam recursos fabulosos que poderiam estar sendo empregados para o
enfrentamento dos reais problemas da humanidade, inclusive os relacionados com
as mudanças climáticas e as respectivas agendas econômicas, sociais e
ambientais a serem discutidas na COP30, em 2025, no Brasil.
Sob qual perspectiva nos colocamos? O que temos a dizer como
sociedade brasileira e mundial no processo de construção de novas relações
internacionais centradas na vida, no caminho de uma sociedade mais solidária,
tendo a Paz como fundamento da sustentabilidade humana no planeta?
A lógica da guerra, de resolver os conflitos entre os países
manu militari, não interessa à maioria da humanidade. A quem interessa?
Interessa aos complexos industrial- militar das potências
hegemônicas, historicamente construídos, consolidados nos tempos da guerra fria
e que sobrevivem até a atualidade. Imaginem se os gastos militares, desde a
primeira guerra mundial, tivessem sido investidos para a afirmação de uma
Cultura para a Paz? Para o enfrentamento dos reais problemas políticos, econômicos,
sociais e ambientais da sociedade humana?
As guerras na Ucrânia, na Palestina, em Israel, no Irã e no
Líbano, como outros conflitos regionais em curso, desnudam as fragilidades da
própria ONU e dos sistemas políticos, econômicos e sociais do mundo em que
vivemos, desafiando a humanidade na perspectiva de construção de novas relações
entre sí e com a própria natureza.
As realidades das ruas e das redes sociais, em qualquer
lugar do planeta, trazem em tempo real para toda a Humanidade os
genocídios e as tragédias sociais, econômicas e ambientais de milhões de
pessoas, atingindo principalmente as crianças e as pessoas mais velhas. A
maioria destas populações continuam à margem das conquistas sociais mais
elementares: educação, trabalho, alimentação, moradia, saúde, saneamento
básico, mobilidade, inclusão digital e uma renda básica, apontados como
direitos universais.
Assim, a luta pela Paz é a luta pela Sustentabilidade do
Planeta, é a luta pela vida de cada um de nós. A ONU transformada, refletindo a
complexidade do mundo em que vivemos, deve ser o espaço privilegiado no caminho
da resolução dos conflitos militares entre a Rússia e a Ucrânia, entre Israel,
a Palestina, o Irã e o Líbano e de todos os outros conflitos militares em curso
no planeta. Devemos afirmar e reafirmar os valores que nos fazem humanidade: a
cooperação, a solidariedade, a luta pela igualdade, a liberdade e a
fraternidade . Há espaços, inclusive na COP30 a ser realizada no Brasil em
2025, para a construção de novas relações políticas, econômicas e sociais,
direcionando o conhecimento humano a favor do enfrentamento dos reais problemas
da Humanidade, onde a cultura da Paz coloca-se como fundamento da democracia e
da sustentabilidade humana no Planeta. São valores universais para a sociedade
contemporânea, no caminho de sermos uma melhor humanidade.
*Membro da UFBA e Diretor do Instituto Politécnico da
Bahia.
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